terça-feira, 27 de setembro de 2005

Jazz

Itália. Havia deixado tudo pra trás. Havia deixado um amor. Alguns sonhos. Possibilidades. A bossa. A praia. O samba. Como ia deixando as ruas de pedra pra trás na descida de uma ladeira quase rosada, passando por belas construções coloridas num amanhecer de uma noite que não deveria ter terminado nunca. Talvez o sol nascendo naquela cidade praiana ao sul da terra de seu avô poderia conseguir uma permissão favorável no que dissesse respeito a invadir a noite, tamanha a beleza de sua incorporação ao ambiente. Era uma bagunça organizada, tamanha a quantidade de tons de cores, vermelhos, rosas, amarelos, laranjas. Aquelas tonalidades se mesclavam aos paralelepípedos, paredes, sacadas, as barracas de frutas sendo armadas e aos pescadores mais atrasados, que se encaminhavam para a praia e pareciam terminar de constituir um cenário que se assemelhava ao jazz. O jazz sim era uma bagunça organizada, pensava. Havia parado de escutar reggae por uns tempos. Estava se dedicando ao jazz. Cooljazz. Chet baker o fascinava. Já Bird, conseguia traduzir palavras impossíveis de sequer serem soletradas com seus solos. Não havia abandonado a música caribenha, nem havia parado de pensar em uma possível ida a Ibiza, ou quem sabe a Grécia. Essa dúvida o incomodava, mas não tanto quanto a noite que havia terminado e deixado em sua boca um gosto de novidade. Parecia haver tomado uma bebida nova preparada de maneira desconhecida. Tinha o gosto perigoso da liberdade. Esse gosto começava a fasciná-lo. Observou de forma incomum um cigarro apagado amassado ao chão. Parecia seu passado. As coisas pareciam acontecer de forma rápida. Ali, só o sol tinha permissão para nascer lentamente. Itália. Havia deixado tudo pra trás.

Dezembro de 2004 ®

Um comentário:

Anônimo disse...

esse eu já conhecia!!!

muito bom...