segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Réu de réis

E se o que era apreço vira moeda, já temos um preço. Não vendo minha alma por você, nem por ninguém. Daria ela a ti, daria ela e muito mais. Enquanto nossos riscos não dependiam da cotação do dólar, ficava mais fácil dividir meu coração em dois. Agora vamos multiplicando nossos erros, sem olhar direito para o problema que virou ficar assim sem pensar em algo além de nós. Prefiro rasgar meus bolsos e jogar fora minha roupa. Prefiro virar pedinte de rua, sem patrão, sem esfinge. Prefiro não ter família, nem nome, nem religião. Talvez só um cachorro bem bobo, que do meu lado, inseparável, possa dizer-me latindo o quanto tempo já perdi tentando fazer você entender o valor do dinheiro. Pra mim, já não custa nada deixar pra lá. Deixo o troco na mesa e jogo uma moeda pra cima. Minha sorte é de graça e nela vejo que sempre um lado vai existir. Então já posso ir.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

8 de setembro

Depois de beber meu vinho e comer da minha comida você se levanta. Observo seu corpo frágil tomar partido, num vestido que valoriza cada curva de sua geografia perfeita. Agora não temos mais segredos. Agora sabemos que somos feitos um para o outro. Procuro minhas chaves e observo meus pés em movimentos infantis como dois animais que se tocam, esperando o tempo voar. Você bate a porta e meu tédio começa. Passo meus dias sem tensão, sem brigas, sem discussões. Sinto falta de nossos destemperos, do ódio em seus olhos ao me fitar de forma convincente, no auge de nossa falta de paz. Quero uma mulher que possa me matar a qualquer instante. Quero esse perigo de vida me assombrando. Sua seiva me alimentando. Suas olheiras me fitando. Quero achar infantil todo texto de amor que não abra espaço pra espelhar nossa história. Você é minha bailarina que dança e convence com seus passos, sem medo, rodopiando em minha biografia. Espalhando papeis, trocando a ordem natural de minhas memórias, desarrumando tudo e criando um lugar próprio só seu, dentro desse filme. Faço cinema com você e representamos algo que nem existe. Seguimos repetindo de propósito todas as nossas cenas de amor. É tudo verdade pra gente. É tudo mais grave, mais simples e minha voz vai ser sempre aquela que te conforta. Te apoio e faço isso com naturalidade orgânica. Minhas entranhas estão vermelhas de raiva. Meu corpo marcado, quer ser levado de volta por todas as outras mulheres que jamais entenderão que fui feito assim, já nasci escrevendo o final feliz que quero viver. Escolhi você e isso é um ato de amor. Escolhi você e somos nós que vivemos juntos. Nossos erros são minha culpa. Nossa beleza é fruto dessa falta de importância dantesca, sobre saber até onde vamos. Eu acredito no eterno. Amanhã é outro dia e hoje, isso pra mim já é tempo pra caralho.