quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Só pra não ficar remoendo essa conversa de final de agosto

Sabia que era preciso ter algo a dizer, mas o oposto era justamente o que fascinava e alimentava suas vontades de tinta e papel. Transformar-se num velho murcho, cheio de adiantamentos a receber, praticamente exilado em uma vida de confortos simples numa casinha de alguma vila italiana, era o clichê que menos interessava pro futuro. Se fosse pra viver na Itália, seria sofrendo do fígado e calejando as partes baixas de forma digna.
Irritava o fato de cada indivíduo empurrado de uma vagina neste planeta se dizer capaz de escrever um livro. Todo mundo agora tinha um blog ou coluna em algum jornaleco pra latir ou coisa parecida. Parecia que de um dia pro outro, simplesmente qualquer ser vivo tinha algo a dizer ou, pelo amor de deus, as gráficas estavam cobrando barato pela tinta. Tipo foda-se a natureza.
Apesar do carimbo de classificação repugnante e ranzinza pairar sobre esse tipo de comentário, começava a enxergar brilho na época em que era preciso um segundo emprego pra ser um bom escritor ou uma herança na conta pra virar um péssimo. Tempos em que as coisas eram mais claras, definidas. Você sabia direitinho quem merecia um olho roxo. Não existia o ecstasy nem a música eletrônica pra espantar os demônios com o sol nascendo, mas costumava-se dar mais valor aonde se metia a pica. Quer dizer, se você não fosse um hippie deslumbrado. Questão de atitude, essas coisas.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Tolos diálogos curtos nº03

-E beijo, precisa de motivo pra mandar beijo?
-Não, claro que não. Mas também não pode ser um beijo jogado, tipo um emoticom largado.
-É. Faz sentido.
-Não, aí não. Sentido por exemplo, é o que menos precisa ter.
-Como assim? Um beijo sem sentido, representando nada, vira um simples código vazio.
-Nada disso. Um beijo é um beijo. Ele representa justamente o que a pessoa que recebeu, vai sentir.
-E como saber o que ela vai sentir?
-Cê tá querendo demais.
-Claro que não...não dá pra mandar um beijo e não pensar em saber o que a pessoa que recebeu está sentindo sobre o dito cujo.
-Cara, deixa de ser cri-cri...pára de querer respostas, coisas em troca.
-Não são simples coisas em troca. Pô...o olhar, o sorriso, o jeito que ela ficou depois de você dar o tal beijo.
-DAR o tal beijo? Pelo msn?
-Caralho. Desisto.