domingo, 26 de julho de 2020

Devil's Glen

Ela tinha os olhos mais pretos e tristes que eu já vi na vida. Olhos felinos, corpo quente e um coração frio. Como um animal selvagem, arredio. Odiava abraços - ou pelo menos parecia testar as pessoas com esses avisos, esses muros que ela construía ao seu redor. Besteira. Tudo um monte de convites velados. Eram puro - Vai ficar parado aí ou vai tentar pular esse muro? Não vai né? Você deve ser apenas mais um frouxo - Pois eu derrubei o muro. E agora quanto mais lhe abraço, mais entendo toda sua tristeza. E quanto mais conheço sua tristeza - imensa - mais eu quero abraçar cada parte que ela deixa cair pelo caminho. Ainda não sei muito bem o que estou fazendo ali. Não quero consertar nada. Não há nada a ser consertado. Está tudo muito fudido, seria impossível juntar os cacos. Mas nessa imensidão de dor é que a gente dança. E nessa vastidão de vidro quebrado que a gente corre. E nesse chão de brasas que é gostoso de deitar. Esse inferno é todo meu. E quero morrer e quero essa dor porquê a vida é feita pra ser sofrida. Não tenho a menor ideia de onde estou indo. E desde quando isso já foi importante?