terça-feira, 21 de outubro de 2008

Abalo sísmico

Entre um abalo sísmico e outro, sigo escrevendo minhas histórias. Já nem sei mais onde começam e onde terminam. Duro golpe pra quem demorou a perceber que prefere o sossego. Mas se a intensidade faz parte de mim e já nem me atrevo a afrontá-la, escolho a gentileza. Peço bençãos, peço desculpas e simplesmente não tolero mais o orgulho de quem parece não saber se ama ou não. Ressentimentos secam motivos que não preciso carregar comigo. Se queres amor tens meu peito. Tens também toda minha estupidez e todos meus piores momentos. Triste preço o do apreço. Triste fim. Corajoso recomeço.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Boca de urna

-E ae, votou em quem?
-Cara, eu não votei. Não acordei a tempo.
-Mas a zona fechava as cinco da tarde…
-Deve ter sido mais ou menos essa hora em que fui dormir. Inclusive tive um sonho bem estranho.
-Algum pesadelo?
-Nem. Sonhei que nada era tão importante a ponto de não poder ser desligado.
-Como assim?
-Tudo na vida tinha um botão de on e off, cara.
-Mas assim, em inglês e tudo?
-É cara, em inglês. Vai saber, esses putos tão até no nosso subconsciente.
-Entendo. Mas, assim, estéticamente falando, como é que isso funcionava?
Charles tateou seu maço de forma demorada, como usualmente fazia, aproximou o filtro de um dos cigarros bem perto de seus lábios secos rachados pelo frio e finalmente puxou forte, enquanto rosqueava seu zippo.
-Cara, você simplesmente desligava as coisas e elas ficavam ali, esperando alguém religar. Mas a vida corria em paralelo, numa boa, numa relax. Eram botões estilo aqueles de força, de energia, pretos, saca?
Marcos forçava a vista prestando atenção a cada uma das palavras. Eram sons abafados e contidos em fumaça densa. Fumaça que parecia funcionar como uma espécie de vírgula. Várias vírgulas, na verdade. Mas que não chegavam a mudar o tom, nem a pontuação da explicação, em interpretação da clara resposta que ali, pareceu satisfazê-lo.
-Aham…
-Então…era isso. Estranho né?
-Estranho. Bem estranho.
-Só não conta pra Flavinha, bicho.
-Por que? Ela vai entrar numa de ficar te analizando?
-Não, ela vai ficar muito puta se souber que eu não votei.
-Tendi.