terça-feira, 14 de março de 2017

Sobre sorte e pessoas inúteis


Ele foi trabalhar assim como se aquele último dia nem estivesse ali. Olhou todo mundo na reunião como se aquilo tudo devesse realmente ser levado a sério. E respondeu e-mails com uma calma que as mensagem nem puderam desconfiar. Tomou um café sem açúcar e por um breve instante suas papilas sentiram aquele gosto de vida real. Dormiu e cagou no banheiro da firma com aquele espírito foda-se como se um estagiário fosse. Sua tela de computador era tão brilhante. Tão interessante. Tão cheia de informações inúteis pululantes. E saiu do trabalho sem despertar ofensas. Deixou sua mesa organizada. E pela primeira vez na vida não teve certeza de nada. Pensou em correr mas não quis despertar nenhuma desconfiança. Pensou em rir mas chorou escroto e sem ninguém ver, igual uma criança. Limpou seus olhos e olhando o céu, quase acertou a merda de uma pomba. Que sorte hein. Que sorte.

The greatest

Glorinha me mandou aquela entrevista da Chan Marshall pro Times depois de um daqueles almoços intermináveis de sexta feira na agência. Fiquei apaixonado pelas duas. Anos depois eu fiz questão de achar sem querer aquele video na tela de um cyber café em Berlin só pra ver ela assistindo. Ela ainda acredita que alguém deixou aberto na tela. Como eu acreditei quando ela finalmente me ligou quase meia noite e me fez despencar pra Botafogo só pra finalmente me dar aquela boceta. Eu duro, redundante, naquele ônibus velho, baratinhas passando debaixo dos meus pés, apaixonado. Mas ela me deu. Pediu pra beber um pouco antes. Foi a pior melhor foda da minha vida.

Glorinha me mandou tomar no cu outro dia. Disse que vai passar um tempo na França. Que precisa pensar. Que é uma grande oportunidade. Ela ainda acredita que eu acho que isso seria o melhor para ela. Parece que quando ela finalmente decidiu dar pra um australiano começou a chorar quando Cat Power surgiu na porra da playlist do cara. Eu ainda acredito que ela vai voltar. Como acreditei quando ela ligou de madrugada dizendo que me amava de um telefone público em Paris uns quatro meses atrás. Foi a pior melhor ligação da minha vida.