sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Por toda coragem que o medo dá


Escrevo músicas que jamais vou tocar. Continuo começando as mesmas coisas que eu nunca vou terminar. Enquanto bebo outra cerveja, reencontro todas aquelas respostas que já sei que não vão durar. Já desisti das minhas certezas mais profundas por você. E agora que a gente sabe que o mundo muda enquanto a gente muda com ele, ficou mais fácil ser doce. Enquanto outro idiota voa por cima do balcão, eu vejo poesia numa janela quebrada. Eu vejo poesia nas situações mais ridículas. E com a minha barba ensopada de sangue, começo a acordar de todos os meus pesadelos bruscos. Por que nos meus sonhos a vida é sempre esse entra e sai constrangedor? Essa fissura de acender um cigarro quando a gente não conhece ninguém? Eu sei do que sofro. Conheço essa doença. Sei muito bem como é essa vontade de encontrar alguém que nos faça sentir bem, quando a gente quer ficar junto assim, sem fazer nada. Minha sala precisa de uma mesa há tempos. Minha sala precisa de você dormindo no sofá. Minha casa precisa parar de ser o meu corpo aonde quer que eu vá. Porque quando existe um motivo pra voltar, a gente sabe que tudo começou a valer a pena. E quando a gente volta a sentir esse medo, dá uma coragem danada pra levantar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ouro no teto

Não vá se perder por aí entre suas poesias de merda cheias de açúcar. Entre seus lamentos adolescentes cheios de teorias distorcidas pela sua mimadice. Não vá entrar num cinema atirando, mesmo que seja apenas sua risada cheia de cuspe e pipoca a preço de ouro. Não tenha dó de si mesmo. E tenha pena, muita pena de quem ainda lhe dá atenção. Corte esse cabelo que nem homem, faça essa barba e arrume um emprego. Pare de desperdiçar lágrimas com piranhas egoístas. Pare de ficar desesperada por um vestido cujo preço daria pra alimentar refugiados em algum canto do mundo por um século. Tente não sentir tanta vergonha de si mesmo. Corra. Beba uma cerveja decente. Desvie seus caminhos de toda violência gratuita que essa sua personalidade pasteurizada merece tombar. Não vá espalhar por aí toda essa sua comiseração, essa auto-piedade e essa falta do que fazer. Sua bunda vai ficar a salvo se você pelo menos aprender a não se tornar uma presa tão fácil em frente a tevê. Relaxe. Se esse monte de merda que você diz ser sua meta de vida apenas envolve grana, de repente tá na hora de dar um passo pra trás. Num abismo. E cair em si. E desviar dos outros. Não vá se perder por aí cagando regras. Não contamine o caminho e saia da frente. Sai porquê eu passando.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O soco

Um soco. E lábios comprimidos, quase indecisos, contra meia dúzia de dentes submissos, até se romperem. E sangue. Ossos curvados dentro da espuma, em um quase transe de dedos longos fissurados. E suor. Adrenalina encharcando seu queixo de vidro, quebrando-se como porcelana. Prévia do seu corpo caindo em torso nu. Desabando com a leveza sutil, levemente desesperada, de quem flutua de forma quase orquestrada. São séculos até chegar ao chão. Que quase como labuta, delimita seu espaço de forma bruta, o mais distante possível daquele mergulho na cama da mamãe. E feito um prelúdio em som seco, afável e grave, ele explode como uma onda sonora. O bafo quente de ar varre insetos como um bêbado cospe fumaça, coreografando milhões de partículas de poeira. Ao seu redor tudo dança, tudo gira distante da tranqüilidade proporcionada pela lona. Um silêncio do tamanho do mundo se agita. O sangue estica suas mãos e une-se ao chão. Vermelho, ele abraça uma logomarca esquisita, colorindo aquele monótono desfile cinza com sua mancha disforme. Seu coração oco vibra, contrariado, contagiado pelo hemisfério sul daquele soco.

terça-feira, 20 de março de 2012

Notas de um mesmo assunto nº37

Toda minha lógica grita, dizendo pra não chegar mais tão perto assim. Meu saco dói, minha cabeça dói, no meu peito é possível escutar os ecos do seu vazio. Minha pele feita de couro, parece se transformar em plástico vagabundo. Qualquer coisa me corta. Quase tudo me entorta. E vem de você, tudo o que me dobra e me afasta das coisas que mais acredito. Não preciso nem que me coloque em seu bolso pra dizer que tá tudo escuro. Tá tudo vazio, apertado. Minha garganta seca, já não pode mais falar. E se o que pode me salvar é tudo o que tenho a dizer, já não digo. Porque já não sinto. Porque o que sinto é diferente de tudo o que um dia já foi dito. E dentro desse lago gelado nado. Bato forte meus pés e vejo a terra firme cada vez mais distante. E me afogo. Me afogo de várias maneiras. Dentro de um copo, dentro de uma boceta, dentro de mais uma noite cheia de avisos. E vejo a terra firme cada vez mais distante. Só não perdi ainda minha capacidade de sorrir. E sorrindo, vou acreditando nessa agonia de achar que além de nós dois, ninguém mais vai sair daqui imune ao perigo.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Infinítu


Ele bebeu e girou e caiu e tombou e andou e dançou e sem querer morrer, a beijou. E viveu e sentiu e brilhou e cheirou e feliz se lançou e abusou de morrer de rir. Mas brigou e chorou e feriu e sangrou e partiu sem deixar uma pista do fim. E bebeu e girou e caiu e tombou e andou e dançou e sem querer morrer, a beijou.