segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

1 cigarro pra 3

Não deu nem tempo pra pensar, elas se beijaram na minha frente. Enquanto aquela cena transcorria, seguia num misto de tentativa de pensar em algo sexy ou criativo pra dizer e de apenas observar, curtindo aquela tentativa de dizer sei lá o quê. Cinco minutos antes era só uma conversa, eram só duas pessoas e eu. Era só mais um motivo pra testar uma abordagem nova, uma conversa com alguém com um humor mais refinado. Não era nada. Não havia pressão para um grand finale. Nem vontade de subverter, porra nenhuma.
Saí de fininho e acendi um cigarro. Meus olhos não conseguiam acompanhar meus pés e quanto mais me afastava dali, mais eles viravam platéia cativa daquilo. O emaranhado de tatuagens virou um borrão de longe. As cores de seus batons misturados deram luz a uma nova cor e suas faces eram de um vermelho notável. E não era nada parecido com timidez.
Já na rua, meu celular tocou. Joguei calmamente minha fábrica de fumaça fora e atendi. Aquela voz meio infantil, meio rouca, esbanjava vigor em uma contradição perfeita.
"A intenção não era perdermos você."
Desliguei o telefone olhando sem motivos pra minha única calça jeans. Eu sabia, agora já não era uma escolha voltar atrás. Ela acabava de me ganhar pra sempre. Ou até onde isso significasse ir naquele verão acachapante.