terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Um pouco de cada uma dessas coisas que nem sei dizer o nome

Enquanto como um pedaço de pão, tomo um gole torto dum café amargo adoçado sem açúcar. Leio o jornal sem ler, deixo tudo ali desarrumado e saio. Os farelos me olham de soslaio, enquanto fecho a porta com o mesmo barulho de sempre, aquele que te irrita. Na rua piso em poças que dançam enquanto viro rápido pra chamar aquelas rodas gigantes. Entro na dança do coletivo apertado, que apressado vai guiando carreiras bem devagar, pelo trânsito abafado da cidade menos suja. Na janela cheia de chuva, converso contigo em cada pensamento soprado pro lado, que desenha alguma coisa impensável demais pra se dizer em voz alta naquela cadeira do povo. Desvio o corpo daquele monte de desconhecidos me abraçando sem pedir licença e desço do alto de minha pequena existência prum chão de pedras lisas. Caminho até o trabalho pra buscar aquele mesmo pão que deixei em farelos me olhando de lado. Busco também um pouco de carne, motivos e um pouco de cada uma dessas coisas que nem sei dizer o nome, mas me fazem um bem danado. De noite reencontro as manchas do café que deixei pra água fria limpar. Reencontro meus livros, algumas palavras novas e as mesmas coisas que vivem espalhadas pelo chão em frente ao meu destino. Enquanto parto pra outro pedaço do dia, vagueio torto até o sono buscar meu pé pra guiar sua noite. Vejo você querendo me dar um outro tanto de sol na beira de nossa cama. Nem mesmo termino um sorriso e já é amanhã. Tiro o disco de Chico que pula na agulha, mando um beijo pro santo da madeira escura e dou um salve pra vida. Aí não tem jeito, já é de manhã.