quinta-feira, 29 de abril de 2010

Restart

No corpo dela, quase todo coberto por tatuagens, ainda sobrava espaço pra muita pele vermelha. Daquele tipo rubro pós tapa. Distante da poesia, simplificara seu ímpeto criativo tomando vodka. Escolhia muito bem quem tolerar ao seu lado, era preciso passar no teste: não ser sacal. Impossível impressioná-la com um carro ou uma conta bancária generosa, já que a umidade em sua boceta não costumava ter ligação direta com medalhas sociais. Isso pelo menos não me tirava do jogo. Ainda não a conhecia quando esbofetei seu drink e quase joguei seu corpo frágil pro outro lado do balcão. Naquele ponto duas únicas coisas chamaram minha atenção. 1) A pin up na pele branca de uma de suas lindas pernas. 2) Os cacos de vidro da caneca quebrada em meu queixo, pousados na madeira podre do chão do Saloon. Prazer. Lá estava eu conhecendo uma nova mulher com ótimas credenciais pra começar uma conversa: nocauteado, bêbado e, talvez a única coisa mais próxima de um leve romantismo, jogado aos seus pés.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Por todo esse barulho que o silêncio faz

O silêncio faz um barulho danado quando a gente insiste em não pensar mais naquilo que, tá na cara, não vai sair da cabeça tão cedo. Cada parágrafo, cada poro e toda referência seguem impregnados. Desassociar sentimentos soa tão patético como separar a cola de um Jack após preparar a porra do drink. É impressionante como é impossível estar pronto pra um momento que, não importa como, vai te machucar. São socos no queixo em seqüência, murros no nariz entortando uma zona de conforto, num desconforto que te tira de órbita. Aí você fica vagando pelo espaço à procura de um cheiro, de alguns adoráveis defeitos e de cada um dos planos que insistiu em fazer. De que adianta saber que é preciso viver o hoje? Pra que essa merda de cagação de regra? Todo mundo no fundo sabe que a maioria dos planos nunca chega a ser cumprido. São quadros de cores belíssimas, com pinturas esquecidas em porões que ninguém vai conseguir admirar jamais. Sonhos que flertam com uma inocência bendita. De um romantismo quase ultrajante. E suas desvantagens insistem em se fantasiar de vantagens. E outra vez o chão treme. Outro barulho seco. Outra vez você está na lona. Posso sentir o aroma de minha sina. Ele é acre, abafado, me causa asma. Mas é entrecortado por uma série de perigosos flashes. São nocautes magníficos onde ganho fama, aplausos de merda, um pouco de dinheiro, bocetas e algumas fotos de jornal. Contudo, o que ainda segue me atraindo é a droga desse chão, que se assume tão mais infinito que o céu. Não me ensinaram a olhar pra cima, então fico andando por aí cabisbaixo. Sigo revestido por uma coragem falsa, dentro desse meu medo de tropeçar de novo. Tenho tanta fé que tudo vai acabar bem, que meu peito deixa de morrer um pouco mais hoje, só pra escrever sobre a falta que me faz o seu amor.