terça-feira, 26 de julho de 2011

For Jade

Cambaleante como as linhas nada simétricas de sua maquiagem borrada, abriu a porta do bar. Trajava uma coleção de motivos pra ser expulsa dali, todos mais ou menos aparentes. O céu nublado em suas narinas contrastava com pupilas dilatadas como dois astros, obstinados em fazer do chão seu mapa para uma última e curta caminhada até o balcão. Enquanto ela pedia uma dose de gim e uma cerveja, eu só conseguia fechar os olhos de todos os meus planos de constituir família, como se eles fossem uma criança impedida de ver algo. E minha tristeza me trouxe beleza e sua voz me trouxe soul e nossas coincidências não fizeram o menor sentido. Dividimos um pouco de pó e logo estávamos numa espécie de mezanino, num bar de apenas um único andar. Lá de cima assistimos a noite virar dia e por ela, juro, não me importaria em perder a noção do tempo. Desenhei com uma faca seu nome em minha mão e, ferido, fiz pouco caso do meu corpo por sua causa. Mas o tempo passa e a morte invade nossa festa como um vizinho pedante. E dessa linha não posso ultrapassar, não dá pra pular como numa área interditada pela polícia. E fico te olhando daqui, baby. Fico olhando tudo o que estão fazendo contigo sem poder fazer nada. Meu anjo se foi e até hoje olho minha mão sã, procurando toda insanidade e todo o sangue daquela noite. Agora meus planos podem enxergar novamente. Talvez até ganhe um bom dinheiro e complete algumas maratonas por ano. Mas sem você ficou sem graça deixar essa cambada de imbecis atônitos toda vez que ultrapasso meus limites.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sete motivos

E se cada passo hoje me enche de alegria, corro. Com essa luz que envolve seus cabelos em nova cor, brilho. Pra cada dúvida, tenho sete certezas, sete lugares pra ir e sete motivos pra te fazer sorrir. Porque ninguém tira isso de nós. Estamos de Ás, largamos a pós e hoje não tem lei seca que tire meu pé desse acelerador. Vem junto, porque sozinho não faz o menor sentido criar esse filme. Revela essas fotos e nos revele por dentro. Deixa eu morar dentro do seu peito por uns dias. Porque o pra sempre é leve pra gente que não tem medo de fazer planos. Vamos adiando nossa derrota ano após ano. Vamos andando. E te beijo com meu olhar de garoto. E me ensino mais uma nova idéia em declínio. Recrio você todos os dias como uma nova mulher. Com todos os seus defeitinhos lindos, seus enredinhos cínicos e manias de circo. Recrio você com todos os meus cacarecos e folhas e livros antigos. Com minhas músicas de acordar e signos e restinhos de trigo nos dedos. Porque se cada passo hoje for um caminho de volta ao nosso ponto de partida, prefiro ir em frente. Não quero o que passou se o que sei que posso ser é melhor. Me dê a mão. Não precisa confiar cegamente em mim porque confio mesmo é em nosso calor. Em tudo isso que a gente sente e se não for loucura, pode ainda acreditar que seja amor.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Já foi

E o que de belo difere o tempo
tudo que escrevi sem anotar
que ficou pro vento
sem baú, sem história
sem documento de memória.
E se fosse isso a arte
se justamente o que não veio
o que não late.
Todos os papéis amassados
sem alarde,
sem prêmio.
Seus fogos de artifício
são os bares, os sorrisos,
os amores e todas as testemunhas,
as criaturas que podem,
que fodem,
que sabem que isso jamais seria escrito.
Porque dito.
Porque vivido.
Não morre,
nem ficará velho nunca,
pois não tem autor.
Têm nós dois,
têm você,
e já foi.