sexta-feira, 10 de março de 2006

Se

Se o sol tivesse vindo. Se a praia estivesse em dia. Se meu peito não fosse doído. Se minha cama não fosse vazia. Se a calma não fosse tão tarde. Se teu corpo não fosse tão lindo. Se meus dias não fossem finitos. Se brincar fosse fútil sorrindo. Se correr mudasse o caminho. Se mandar embora trouxesse carinho. Se a estrada não fosse de pinho. Se a noite demorasse com vinho. Se ela me amasse aos prantos. Se o biscoito fosse sempre o da Vó. Se o emprego não fosse um dentre tantos. Se a comida não estivesse em pó. Se ela nunca chegasse atrasada. Se uma carta servisse de escada. Se esse jeito estranho parecesse charmoso. Se enxergassem na vida um pouco mais de gozo. Se artistas e generais não precisassem de mais. Se nunca tivesse brigado com meus pais. Se a vitória chegasse sempre tranqüila. Se aventuras fossem sinônimos da ilha. Se nuvens negras tampassem horizontes. Se amizades sinceras não precisassem de pontes. Se mulheres de amigos não sentassem no colo. Se gemer fosse só sinal sonoro. Se bichos de estimação não dessem tanto trabalho. Se bocas não trouxessem aquele gosto de alho. Se nadar no mar fosse obrigatório pro cristão. Se jogar lixo na rua fosse fantasioso como ilusão. Se fazer gracinhas fosse uma espécie de mimo. Se ler livro antigo instigasse o desatino. Se escrever poesia espantasse esse mal. Se sorrir pra cantar aumentasse a moral. Se sair pra dançar não ficasse sem sal. Se morrer por você não fosse fatal. Se parar de entreter deixasse um leve baixo astral. Se ficar sem dizer fosse algo banal. Se alimentar sentimentos protegesse da chuva. Se coisas estranhas tivessem gosto de uva. Se roubar na sinuca não desse tanto na cara. Se viajar com amigos virasse apenas piada. Se o jantar de domingo não desse depressão. Se o topar sonho antigo não fosse tão contra-mão. Se o pano de prato não fosse tão branco. Se preces fossem preces de um homem não santo. Se dormir longamente não gerasse mais sono. Se avistar folha seca avisasse do outono. Se beijar sua boca fizesse gozar. Se formular teorias espantasse o azar. Se beber no gargalo apagasse esse fogo. Se andasse descalço e escorregasse de novo. E se nada seria, mas tivesse um suposto. Somente amaria um péssimo oposto.

2 comentários:

Anônimo disse...

e ai cara firmeza?
vir seu blog em uma comunidade de literatura marginal eu tbm escrevo, quer dizer to comesando agora rsssssssss.
gostei do seu texto muito massa, quando der aparece ai no meu pra deixa seu link beleza.
fica na paz

Anônimo disse...

Se o mundo fosse feito de se... ;)