domingo, 12 de março de 2006

Chocalhos

Por mais que tudo aquilo fizesse sentido, nunca daria pra entender o tamanho do estrago que um peito vazio lhe causaria. Aquele buraco no colo pedia preenchimento, tudo o que não podia dar. Daí apenas fazia o trabalho sujo. Esquecia da vida em outro copo, em outro corpo moribundo. Flutuando, descia esquinas e subia escadas. Colhia sorrisos e mantinha aquele joelho doendo. Eram linhas de errância em papéis absorvidos sem muita lógica. Dar pra dançar não dava, mas ele segurava delicadas mãos às levando pra um passeio no meio do salão. Cada passo um novo espaço. Assim seguia esquecendo que era melhor nem ter lembrado, melhor nem ter ligado. Surgia como um príncipe em cada novo quadro bebendo a vida em cada gole raso. Entrar e sair eram a freqüência máxima. Como bolhas de sabão que estouravam à mesma medida que eram criadas. Daí vinha aquela vontade de escutar Chico e Marisa. Aquela vontade de ler um maldito. Aquela ação não predestinada feito um rito. Então dava pra ver de longe sua luz. Propagada num vácuo de tortos laços. Era Leme, era Lapa. Era madrugada. Era dia novo. MTV ligada sozinha e música alta vinda do quarto. Sempre os mesmos espaços. Sempre os mesmos tolos querendo preencher o que já nasceu sendo fato.

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