terça-feira, 25 de julho de 2006

Contramão

Desgraçada morada que surge na madrugada. De lá de cima dá pra ver o mundo. Dá pra ver seu rosto, o sol e meu rosto. Dá pra sentir o sol que brilha e aquece nosso pulso morto. Sinceras são as preces que fazem tudo parecer começar a ficar diferente. São resoluções, pensamentos em vão e atitudes sem ação. Músicas que ajudam a inspiração formar e tomar corpo. Desgraçada morada. Tão sincera que me faz ser assim. Tão bonita. Com tanta cor. Amaciada pelo amor da verdade que transforma metas em ideais. Chacoalhada com o barulho das folhas secas que caem de minha cabeça em eterno outono. Estações do ano que vão se distribuindo sobre meu corpo tosco e genuíno. Cordas que vibram em sons que se dividem entre as atenções de um casal e meu livro aberto, com folhas sendo rasgadas pelo vento seco. Clima úmido de frio que entra nos ossos fazendo dor apartar a briga de pensar que não estou vivo. Estou vivo e solto no mundo. Solteiro. Solto à sorte dos bares e das madrugadas vermelhas. Solto à sorte das desgraçadas moradas. Dançando com fadas. Olhando para as luzes. Pagando uma bebida para quem diz me conduzir. Passos rápidos de autoconhecimento barato. Nada faz a simples vontade de uma história começar, torná-la menos dolorida. Quebram-se copos, quebram-se vidas, fere-se meu instinto em prol de uma sacada repentina. Ações que aglutinam uma total falta de segurança, pois é preciso esquecer toda falsa segurança que achamos que poderia ter existido. Só ouço uma voz em capela. Uma mesma música que toca no mesmo pôr de sol aplaudido. Uma mesma retórica que se repete em meandros malandros de pó e dor. Rastros de passos na lama de nossa consciência. Impureza de falta de insensatez aflorada. Paro pra observar as estátuas frias que ficam insistentemente paradas ao redor das praças que termino meu dia. Mas só é noite depois que eu durmo. Então sigo criando um calendário novo de histórias e possibilidades onde ser feliz é papel de coadjuvante secundário. A verdade que emociona na obra é o abandono de tudo que nos deixa mais forte. Abandono o chão pra poder flutuar. Assim adquiro força pra olhar tudo de cima. Não resolvo nada, mas enxergo melhor. Ando na frente justamente por não precisar ter nada resolvido. São parâmetros e paradigmas. Entrosados em crises de entranhas bem vistas. Emoldurados em pele, em suor. Cuidadosamente transformados em mistério. Como um dia de domingo e toda força que um abraço de Pai pode oferecer. Porque eu te ofereço força. Eu te ofereço meu peito, meu pranto e minha cabeça com idéias de contramão.

Um comentário:

André Lasak disse...

Muito bom!

Gostei da rapidez das frases.