quinta-feira, 4 de maio de 2006

Plugs

Aquela sua cama fazia um barulho danado. Transar nela era até bom, mas caso alguém estivesse no quarto ou apartamento ao lado, devia ser um saco ficar ouvindo aquele rangido misturado a gritaria das putas. Porquê elas gritavam ele não sabia, mas achava que poderia quem sabe ter alguma relação com o prazer que proporcionava a elas. Tolo. Apesar de poder ser facilmente classificado como um simples grosseiro, até sabia dar o que elas queriam. Ou pelo menos tinha essa inocente pretensão. Encucava-o ter a noção que as mulheres conseguem realmente gozar sem nem serem tocadas. Nunca entendera isso até o dia em que uma compartilhara tal mérito num tom superior e arrogante. Elas funcionavam diferente, definitivamente.
Criado numa família russa sem mulheres na casa, pois não considerava sua Vó uma mulher, mas espécie de santa, só foi aprender o que era ciclo menstrual quando tinha lá seus quase trinta. Ironicamente, justamente por essa criação num lar essencialmente masculino com um pai que fazia as honras de mãe e quatro irmãos, tornara-se um cara meio reservado, mas interessadíssimo no universo feminino. Especialmente no compreendido entre suas pernas.

Recém juntado com uma tatuadora alemã que morava em São Paulo há cinco anos, a primeira coisa que fez ao levar todos os seus poucos pertences (basicamente uma caixa com antigos vinis) pra casa dela foi verificar a cama de casal nova. Ela lhe confidenciara que pra comemorar a ocasião especial, além de uma boa quantidade de heroína de alta qualidade – coisa rara na cidade da garoa – tinha comprado uma cama de casal de madeira maciça numa espécie de brechó chic de Pinheiros. Foi até engraçado ver aquele braço tatuado, cheio de abscessos e feridas purulentas, já quase sem veias boas, remexendo a cama com força pra ver se fazia barulho. Vendo o silêncio que abafaria cada estocada dos seus momentos de prazer naquele quarto, ficou puto. Depois do pico, mesmo no auge da onda, desceu pro bar contrariando sua lógica paranóica. Ficou lá horas com a mesma Miller long-neck quente na mão.

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