terça-feira, 16 de maio de 2006

Conjugado nº 107

Sim, acredite. Já tive uma bela mulher. O problema é que brigávamos muito. Havia paixão ali. Muita. Eram raios de sol diários. Nossa relação era meio doentia, mas isso é o de menos. Ela era burra. Diria até, meio estúpida. Muito infantil. Só usava vestidos de algodão leve, com estampas claras. Geralmente flores. Uma vez dei um baita soco em seu rosto. Devo ter quebrado uns dois ou três dentes. Me arrependo daquilo até hoje. Não. Mentira. Não dei soco algum, foi apenas um tapa. Mas lembro que gostaria de ter dado um belo direto em sua cara. Ela nunca mais voltou depois desse dia. Nesta tarde eu havia levado ela pra comer um belo bife no restaurante da praia. Uma espécie de rodízio, mas rolava a La Carte também. Ela adorava bifes. Também tinha umas manias de sorvete, mas aquela fase dos bifes durou muito tempo, quase todo o nosso relacionamento. Eu dizia pra ela que aquilo apodrecia na barriga, mas ela fazia aquelas caras de “não tô nem aí”. No tal dia do fatídico tapa, a vadia cismou de me machucar. Machucar por dentro, saca? Destilou diversas baboseiras afiadas que devia estar guardando há muito, apesar de nos atracarmos a toda hora e parecer não existir estoque de podridão a serem lançadas entre nós, guardado. Lembro que até da minha masculinidade duvidou, a pequena louca. Acho que não devia mais me amar. Certamente não. Cheguei a notar algo estranho nela em relação ao Frank, amigo meu. Na verdade até hoje tenho minhas dúvidas se ela deu pra ele. Enfim. Mas o fato é que ela foi embora depois daquele tapa. Um belo tapa. Daqueles que fazem um indivíduo rodar sobre o próprio eixo. Mas é foda. Sinto falta. Sinto sua falta até hoje. Fico olhando para as mulheres que arrumo. Sempre muito exageradas. Gosto de observá-las deitado da minha cama, enquanto estão fazendo algo na pia da cozinha ou se vestindo perto da penteadeira que existe na quitinete mobiliada em que vivo. Bêbadas demais. Derrotadas demais. Subversivas demais. Possessivas demais. Belas demais. Politizadas demais. Sempre exageradas. Sempre essa merda desse exagero. Sempre uma porção maior do que eu pedi. Daí fico relembrando. Pode acreditar. Lembro daquele olhar de menina perdida. Aquele jeito mimado de puta mal resolvida. Uma espécie de Camila Lopez. Talvez fosse a minha mexicana. Se bobear era sebenta também. Tem dias que me resolvo bem com isso. Tem dias que não. Mas ela já foi minha. Isso é certo. Toda minha.

Um comentário:

Pobre Urbano disse...

esclarecimentos...
1. o vagão feminino realmente deve ser bem mais interessante pra homens do que pra mulheres.
2. já pulei... pulei fora!
3. não consigo escrever histórias feito vc... me ensina?