segunda-feira, 10 de abril de 2006

Porra nenhuma

Voltando do bar encontro Jimmy sentado num banco da praça perto da praia. Não era uma das melhores escolhas ficar ali dando sopa.
-Aquela puta terminou o casamento cara. Acabou. Puta.
Jimmy vivia as turras com Raquel desde quando se conheceram, numa briga na entrada de um show do Ramones por causa de uma suposta furada de fila. Acho que aquilo nunca mudaria.
-Ela trocou a chave da porta cara. Acho que agora já era mesmo. É o fim.
Fiquei olhando ele falar. Eu estava bem bêbado, seu rosto mais parecia uma mancha meio disforme que de vez em quando ficava nítida, bradando aquelas frases soltas.
-Tu fez merda?
-Não fiz porra nenhuma cara. Porra nenhuma.
-Vai ver foi por isso então.
Saí andando. Minha dose de humanidade já havia ido embora quando roubei umas notas do bolso de um cara bêbado caído no banheiro do Pub todo vomitado. Ele usava uma daquelas camisas de tecido com um bolso único no peito. Tinha cara de bem nascido. Meus esquizofrênicos valores tendem a achar que quem tem cara de bem nascido merece ser fudido de vez em quando.

Jimmy ficou lá imóvel com aquela cara de cu habitual olhando enquanto eu me afastava. Provavelmente devia ter dinheiro pro Táxi e logo estaria na casa de sua mãe em Copacabana tomando um banho quente. A mim, o resto daquela noite escrota bastava.

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