terça-feira, 11 de abril de 2006

Nada de bolor hoje

Acordo cedo. Antes mesmo da armadilha sonora do despertador soltar os bichos pra cima de mim. A barba ainda está por fazer, mas já faz mais de uma semana que não bebo. Oito dias pra ser mais exato. Penso em dar uma caída. Olho pra pranchinha, mas lembro que meu joelho ainda não tá segurando a onda. Resolvo preparar algo pra comer. Acho na geladeira umas coisas legais e incrivelmente, elas estão frescas. Nada de bolor hoje. Me animo a preparar um café. Ligo o rádio e já com um belo naco do sanduíche de peito de peru na boca, escuto uma daquelas típicas músicas antigas de comercial de cigarro que recheiam o coração da maioria dos otários normais como eu com uma farta dose de euforia. Olho pro relógio e pareço não acreditar que àquela hora já estou de pé e tão bem disposto.
No escritório decido escrever algo. Lembro que hoje tenho uma reunião de pauta na redação e penso em dar uma chance para o babaca do meu chefe, vou aparecer. Ao contrário de grande parte dos jornalistas, intelectuais que esbarro por aí ou pelas demonstrações práticas em forma de depoimento ou atitude dos que não conheço, acho ótimo ter uma labuta fixa. Esse lance de trabalhar por adiantamento rouba a porra da alma de vários escritores. Todo mundo precisa pagar suas contas e alimentar o cachorro. O resultado disso são livros que poderiam até ser digeríveis se feitos em três ou quatro anos, transformados numa patética literatura vazia entregue em meses visando a merda do cheque da editora. Liberdade pra escrever é escrever de ressaca olhando a hora no relógio da cozinha pra sair pra jornada diária. Liberdade é perrengue. Os grandes passaram perrengue porra, não se garantiam em adiantamentos.
Após teclar meia dúzia de parágrafos desisto do laptop e entro numa de escrever no papel mesmo. Já faz um bocado de tempo que não escrevo à mão e minha letra vai saindo tão tosca quanto minhas assinaturas em cheques bêbados que solto por aí. Meu gerente deveria ser perito por liberar aqueles garranchos. Só uma vez me ligou checando se podia pagar a quantia ali descrita com uma caligrafia sofrível. Qualquer dia eu me fodo por isso.
Acabo escrevendo uma poesia doce, sem ser frívola, até boa. Fala de uma mulher que me encantou certa vez. Não era isso que estava em mente ao começar a rabiscar, mas foda-se. Agora falta achar alguma saia que a mereça. Quem sabe esse garrancho não vire um presente. Talvez isso seja um pouco complicado. Tenho esbarrado em belas fodas por aí, mas nada que tenha enchido meu peito e tirado meu ar. Acho que tô precisando de uma mulher com quem realmente possa conversar. Não precisa nem ser a mulher mais linda da cidade, mas de preferência nada de grampos espetados no nariz gratuitamente. Nada contra os piercings tradicionais, mas só o Buka mesmo pra pensar nessas distorções bizarras.
Chega ao meu celular uma mensagem dizendo como as ondas estão hoje. Entrou um belo swell. Tão rolando altas. Esbarro com a porra do dedão na quina de minha cama lendo o torpedo e dou um uivo de dor. Fico meio puto com aquilo de uma forma ainda inédita no dia. Vou ao espelhão do banheiro ver o dedão. Percebo meu corpo no geral menos inchado. O tempo dado na boemia mostra suas armas. Vai ver o único problema foi acordar muito cedo hoje.

3 comentários:

Anônimo disse...

mas essa foi a minha pior revolta: eu não moro perto. Muito longe por final, mas, enfim, obrigada pelo apoio.
Bom feriado. :D

Anônimo disse...

*sinal

Pobre Urbano disse...

O velho Buko ficaria orgulhoso.