terça-feira, 18 de abril de 2006

Backup

Porque é preciso o sorriso pra conter a chuva. Não adianta só tomar banho e achar que estamos limpos. Sempre sujos, assim devemos nos manter. Sempre burros, características intrínsecas do querer. Buscas. Mendigos fugindo de nossas barbas falhadas, trajando um medo aprisionado de quem não tem nada a perder. Tequilas baratas vendidas de forma mais cara pela ilusão das luzes e música alta. Dança. É preciso dançar mesmo sem saber dançar. E tropeçar sem cair. Pois cair tem que ser cair mesmo, sem historinha. É preciso samba com feijão e até um pouco de microfonia. É preciso funk carioca antigo, duma época em que fez sentido. É preciso levar o Maracatu pra conhecer as Laranjeiras. Não são nada importantes enfermeiras. É preciso tomar um chope lendo um livro sozinho. Imprescindível aliás. Importante ficar sozinho. Tão quanto um bom ninho. Músicas novas no e-mule. Teorias adaptadas de Marcuse. E filmes. Os mais rasteiros, os mais baratos, os mais famintos. Mas devem tocar. Embora isso não seja dever, mas questão de sorte e identificação. Daí também você fica liberado pra ver quantas vezes inventar.
Porque é preciso gosto pra sentir o amargo da uva. Saber que sem choro não existe aquela patética sensação de alívio. Que depois do tal regurgito, vem uma baita calmaria. É preciso bater forte no balcão e beber algo diferente. Ou não beber. Necessário sentir a sensação de harmonia com o corpo seja ele mal-tratado, mal-amado ou apenas mal-compreendido. Entender que a falta de compreensão é de tal forma um fato que chega a ser inocente achar que todos vão pescar o que você disser. Falar ao telefone algumas vezes pra aproximar. Esperar a noite virar dia sem nem sentir pra alinhar. Não esperar resposta. Apostar em chances sempre com a menor probabilidade de acerto. Esquecer sumariamente os remédios. Jogar todos fora. Juntar uma caixa grande com todos os comprimidos inúteis que tomamos para os sintomas inventados pelas nossas neuras e deixar pros lixeiros levarem junto aos sacos barulhentos cheios de garrafas vazias que corrompemos com saliva.

Porque é preciso escrever alguma besteira pra liberar espaço pras coisas que importam mesmo. Importar-se demais com significados é regredir. Importante é ir em frente mesmo que isso suponha um caminhar pela contra-mão. Dar a mão. Babaquice deveras importante. Esquecer seus ídolos pois eles não foram feitos para serem lembrados, apenas buscados em seu quarto num momento de autoconhecimento madrugada adentro. Ler Bukowski. Já malhar o Judas, complicado, não dá mais pra saber se é certo ou se vai ficar sendo apenas tolerado.

Nenhum comentário: