sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Duas ou três poesias e o vento

E bate a mesma sensação de tempo perdido. Macaco velho, fico dando voltas dentro de minha própria cabeça. Recuperando arquivos. Checando novas possibilidades para buscar algum sentido em todo esse nosso fracasso. Até derramar tudo. Até me sentir vazio. Aí bate a onda. Porque é estranho não me sentir leve desse jeito. Tá foda não admitir que tô feliz. Já não me assusto ao perceber as risadas que andam freqüentando a rádio do meu peito. Não tô mais pagando jabá pra entrar nessa vibe. Bate até uma pena por esquecer você tão rápido, mas esse papo de sofrer por sofrer ficou perdido entre os meus vinte e poucos anos. A boa do dia? Já não quero mais te mandar pro inferno. Porque minhas manhãs agora têm outros cheiros, outros ventos, outros planos. Tô legal de motivos. Deixo você colecionar sozinha todos os que te fizeram sentir raiva de mim. Se já não tenho a menor pretensão de achar que vou fazer falta na sua vida, é porque cansei de abdicar da minha.

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Lindo, ela diz. A preguiça de falar me reduz a um aceno, contraindo meu rosto até formar uma espécie de agradecimento com minhas expressões. Mas acabo sussurrando algo. Digo que ainda o acho meio frágil. Que preciso pedalar um ou outro tom nesse novo texto. Ela caga um balde pra isso e pula em cima de mim. Começamos a nos beijar. Deixo meu caderno deslizar e cair como se naquele momento reduzisse nosso compromisso ao nada. O vento levanta duas ou três poesias inacabadas que, sortudas, testemunham um casal com vontade quase literal de se comer.

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