terça-feira, 28 de setembro de 2010

De mãos dadas ninguém pensa em morrer

Você enche meu copo e a gente descobre um jeito de ficar assim, sem fazer nada, mais tempo juntos. Sábado passa a ser nosso dia oficial de mandar o mundo inteiro tomar no cu. Um pouco de pó transforma seu desfile de calcinhas novas no evento mais importante de todos os tempos. A gente vai se matando aos poucos, sem glamour, mas sabe que morrer é apenas uma bela certeza que nos dá ainda mais vontade de fazer amor. Então a gente brinca com nossos corpos como dois adolescentes de trinta e troca nossa estrada asfaltada por um pouco mais de graça. Não é seguro, mas a noite passa e vira sol. Domingo é dia de caminhada, suco de frutas da praça, boca cheia, saúde e aquela deprê que não me larga. Nossas desgraças são absolvidas a cada nova boa notícia, a cada novo amigo de fé que se casa, faz um filho e feliz, fica menos babaca. Seu sorriso é raio de um brilho esguio que se espelha, se encaixa em nossa festa, disfarça em meu peito o que resta de nós, que só passa a ter graça em você. Parei de contar meu tempo livre desde tua ligação crua, voz madrugada nua, me chamando pra te assistir escrever. Seguimos brincando como dois são um, em caça níqueis, cheios de erros infalíveis. De saídas à francesa. Cheios de todo esse povo chato posto à mesa, que aponta demais porque não pode entender. Não quer perceber. Se já não temos rumo, abandonamos nossos planos, assuntos, andando por aí. E se a gente fica junto, é porque de mãos dadas ninguém pensa em morrer.

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