quinta-feira, 7 de maio de 2009

Velhas vontades

Fiquei com vontade de escrever o mais belo texto de amor. Queria observar você lendo minhas cartas, queria ver um sorriso honesto sem dor. Imagino sua rua, mesmo sem nunca ter ido lá. Vejo flores na varanda. Nos vejo nus. Imagino seu corpo, seu dorso. Te vejo querendo sentir de perto essas distorções. Saio pela calçada, compro pão. Esqueço o que já nem preciso, te dou a mão. Leio coisas tão bonitas, de uma leveza tão argentina, tão distante. Choro. Sigo por entre pensamentos tão cinzas. Me sinto melhor.
Fiquei com vontade de escrever um belo texto de amor.
Não sei se essa dor só me vem quando passeio por seus olhos e não chego a lugar algum. Porque em outros olhos me perco, nem vejo nada. Vejo espadas, vejo cruz. Em nossa cama vejo pus. Apenas um sol que se levanta como um astro e põe em nossa mesa o pão, o jornal, o antepasto. Em vosso teatro brilha nossa falta de tato, que me agoniza, me quebra. Imagino seu corpo, seu colo. Quero colo. Quero minha mãe. Mas nem sei quem ela é. Quero me ver por perto, quero tantas coisas.
Fiquei com vontade de escrever.
Nem sei de mim. Nem sei o que. Escutando uma linda canção começo a achar tudo tão fácil. Em cada nota vejo-te ali: oposta, esguia. Assim amenizamos nós. E essa minha mão que desarma em textos que viram arma, não atira. E te amo por nós dois. Talvez até por quem mais for. Vibro em meu silêncio repleto de certezas. Em todas as minhas velhas vontades. Em todas as minhas impurezas. Só pra te dizer que estou aqui.

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