segunda-feira, 27 de abril de 2009

Poeira

O tempo passa e se esquece. Esquece o que nos fez rir. Esquece o que nos encheu de cor. Esquece. Simplesmente as memórias se vão. Viramos novamente crianças com uma inocência que não mais brota alegria, apenas lança mágoas. Esquece a gratidão. Esquece o amor. Para onde será que vão estas lembranças? Será que elas reúnem-se em um lugar comum? Será que brindam nosso esquecimento e se aquecem contando nossos melhores dias, um a um, em frente a uma lareira que arde sem culpa? Será que o melhor de nós está com o destino traçado e nada o dará a possibilidade e a grandiosidade do eterno? Em risadas, esse pesado pensamento desenvolve-se e sucumbe ao estardalhaço dos errantes caminhos chamados fáceis demais. Porque é fácil sofrer. É fácil pensar que o esquecimento se inunda de dor, quando uma fagulha de regozijo paira em cada nota mal tocada que não se escuta mais, porque não se recorda nem quem a deva tocar. E a proteção da falta de memória agora vira luxo. E o esquecimento vira ouro e torna-se pérola. Vira objeto raro que não requer posto de contemplação porque também, ele, será esquecido. O raso riacho que corta esses dois mundos é lúgubre, mas solucionador. Se o que apenas é não pede explicação, qualquer lembrança viva traz contentamento e toda indiferença ao que já se passou afunda no silêncio de quem manteve algum tipo de esperança. Tola esperança. Tudo o que transforma tristeza em alegria há de ser lembrado. E esculpido em memórias turvas, ri-se o riso bobo de quem pensa que lembras, mas apenas descreve em agonia, a mais pura vontade de voltar a ser feliz.

Um comentário:

André Aires disse...

Complicado de comentar. Bom de ler.

Abraço.