quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre como distinguir o choro do riso

Papai saiu cedo. Precisava fazer um dinheiro. Precisava ser pago. Papai era muito dócil com a gente. Tocava violão, contava histórias. Quem o olha mal acredita que aquelas mesmas mãos viveram sujas de sangue por aí. Quando escutava suas conversas por trás da porta a única coisa que nunca mudava era a razão: sempre com ele. Jamais entendi o que fazia de verdade. Mamãe tinha muito orgulho dele, vivia emocionada. Sempre com essa maneira especial de chorar ou rir do mesmo santo jeito. De uns tempos pra cá nem tentava mais distinguir. Papai saiu cedo. Mas hoje ele não volta. Meteram uma bola oito em sua boca. Achei desnecessário isso. Mamãe ainda nem me falou o que aconteceu, mas já me disse pra não contar ao Chico, meu irmão menor. Quebraram todos seus dentes e queimaram o corpo. Ouvi dizer que aquele homem do tamanho de um armário coube facilmente na mala duma Fiat, na rua do Tio Bento. Minha mãe agora tá chorando. Tenho certeza. Vou lá pra cima com o Chico. Para o caso de alguém entrar numa de dizer que papai foi fazer uma longa viagem, ainda não decidi se vou acreditar ou não.

Um comentário:

André Aires disse...

Boa. E o menino cresceu, e saiu queimando corpos por aí.