segunda-feira, 3 de março de 2008

Dali de onde ainda não dá pra me ver

Por trás dessa vontade de digerir meus textos ainda insistem existindo, uma penca de coisas pela frente. E ao contrário da obviedade sem sal associativa, dá pra enxergar muita coisa ali daquele ponto meio novo, discretamente ingênuo, meio na lanterna: daquele lugar de quem chegou agora na minha vida. Esse caminho todo que você pode querer percorrer não é tão emocionante como pensas. É cheio das histórias como as que a gente conta um pro outro quase de brincadeira, depois de tanta felicidade dividida, olhando pro teto e sem a menor vontade de entender o mundo logo ali fora. Normal que seja assim, estranho seria vestir-se como um soneto pedante e medroso, cheio de botões pra desabotoar, rimas mansas, declamações em mesas de bares da moda ou cheio de falsas verdades pra se redimir.
Esse caminho todo é menos perigoso do que pensas também. Até porque ele é completa e cuidadosamente moldado pra ser assim. A antologia do poetinha já diria isso como uma espécie de alcorão, bíblia ou guardanapo manchado, antes de sequer nos permitirmos provar desse mal. É um desastre certo que não chega a pedir, porque clama. É choro de profusão e fluído que se espalha entre nossos corpos nus e por cima de tudo o que nunca mais vai fazer sentido depois de provarmos cheios de curiosidade, aquilo que deixamos acontecer. Fica combinado que pro dia nascer feliz a gente precisa de bem menos que isso. Acaba sendo sempre muito mais do que imaginamos. Parece fácil, mas é uma pena só percebermos tal coisa quando estamos com as mãos tão atadas fora de nós. Com passagens de volta tão racionalmente reservadas, chegando a flertar com uma silenciosa rebeldia tediosa.
É de uma sujeira apaixonante esse pedaço de preguiça gostosa que me invade. Anda tudo tão rápido ultimamente que dou de ombros. Solto aquele riso gostoso de quem estava tão acostumado ao erro, que acabou deixando tudo virar um emaranhado de acertos levianos. Nem tenta me entender, as respostas mais completas que tenho estão bem ali: num lugar onde ainda não dá pra me ver.

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