terça-feira, 4 de setembro de 2007

Não daria pra comer aquela buceta com cheiro de talco roncando ao meu lado na freqüência dos cães no quintal

Olhei e a pia estava lá. Continuava cheia, mantendo um domínio sobre aquela situação que me colocava sob uma absurda humilhação completa. Queria dormir, queria apenas morrer um pouco pra acordar renascido, mas ela lá. No meio daquele lixo nojento: carne, podridão, miséria e falta de sentido. Meus dedos chegaram até o ralo já mortos, submersos na merda etílica. Mexia, mexia e nada. Precisaria dar outro jeito.
Da cozinha trouxe um pote de manteiga quase vazio, daqueles redondos, afinal um balde seria grande demais. Senti-me mais doente que o normal enchendo-o de vômito e despejando na privada. Um vai e vem contínuo. A pia era uma espécie de canoa cheia de esgoto. A privada, um mar cristalino pouco a pouco tomado por tudo que um corpo torto se credencia no direito de extirpar. Logo a depressão no centro daquela bancada de granito estava vazia e o chorume grosso escorria pelos esgotos da cidade. Meu vômito agora era problema das tubulações alheias. O Estado que desse seu jeito.
Lavei a mão e finalmente fui morrer em paz em uma silenciosa cama barulhenta. Não daria pra comer aquela buceta com cheiro de talco roncando ao meu lado na freqüência dos cães no quintal. No dia seguinte seria promovido. Vai entender?

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