quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Só pra não ficar remoendo essa conversa de final de agosto

Sabia que era preciso ter algo a dizer, mas o oposto era justamente o que fascinava e alimentava suas vontades de tinta e papel. Transformar-se num velho murcho, cheio de adiantamentos a receber, praticamente exilado em uma vida de confortos simples numa casinha de alguma vila italiana, era o clichê que menos interessava pro futuro. Se fosse pra viver na Itália, seria sofrendo do fígado e calejando as partes baixas de forma digna.
Irritava o fato de cada indivíduo empurrado de uma vagina neste planeta se dizer capaz de escrever um livro. Todo mundo agora tinha um blog ou coluna em algum jornaleco pra latir ou coisa parecida. Parecia que de um dia pro outro, simplesmente qualquer ser vivo tinha algo a dizer ou, pelo amor de deus, as gráficas estavam cobrando barato pela tinta. Tipo foda-se a natureza.
Apesar do carimbo de classificação repugnante e ranzinza pairar sobre esse tipo de comentário, começava a enxergar brilho na época em que era preciso um segundo emprego pra ser um bom escritor ou uma herança na conta pra virar um péssimo. Tempos em que as coisas eram mais claras, definidas. Você sabia direitinho quem merecia um olho roxo. Não existia o ecstasy nem a música eletrônica pra espantar os demônios com o sol nascendo, mas costumava-se dar mais valor aonde se metia a pica. Quer dizer, se você não fosse um hippie deslumbrado. Questão de atitude, essas coisas.

3 comentários:

André Aires disse...

Caraca...

'Irritava o fato de cada indivíduo empurrado de uma vagina neste planeta se dizer capaz de escrever um livro. Todo mundo agora tinha um blog ou coluna em algum jornaleco pra latir ou coisa parecida. Parecia que de um dia pro outro, simplesmente qualquer ser vivo tinha algo a dizer'

Adorei isso. Sinto náuseas semelhantes. Isso sem contar nos clichês. É todo mundo batendo na mesma tecla (mesmos temas,assuntos, angustias...), e o pior é que eu não estou de fora desse jogo. Alguma coisa nao está certa, meu poeta. Ainda bem que existe você para equilibrar o quadro. Porém, quero deixar claro que isto não foi um sonho (rs...).

Abraceta!!!

Saulera disse...

"Ele se trata de um bom escritor é evidente, mas o mundo está cheio de bons escritores. Além do mais não respeito ninguém pelo fato de ser um bom escritor. São necessárias outras qualidades."

Grupo disse...

Todo mundo agora tinha um blog ou coluna em algum jornaleco pra latir ou coisa parecida. Parecia que de um dia pro outro, simplesmente qualquer ser vivo tinha algo a dizer ou, pelo amor de deus, as gráficas estavam cobrando barato pela tinta

Cara, devo dizer: isso doeu. Doeu muito mesmo.
Que eu te invejo (saca aquela inveja bem cinzenta?) já não é novidade. Mas agora, além da inveja eu te odeio. Odeio porque você me obriga a amar essas coisas que você escreve, que me incomodam mas que são a mais pura verdade.(Sentiu só latidão?).

Muito massa, estava realmente com saudade dessa tua acidez. Muito bom mesmo. Parabéns.

Moiza