segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tudo assim, sem muito açúcar

Depois de 300 km na estrada finalmente cheguei em casa. Quer dizer, na dos meus pais. O fato de não ligar antes pra avisar deu realidade e mais cor aos seus sorrisos, amarelos e menos afetuosos.
O velho abriu a porta e eu segurei uma golfada. Tarimba de quem esta acostumado com ralos sempre tão pertos da fuça. Ele parecia um cadáver cheio de lamentações flutuando sob sua cabeça, ao som de alguma música fantasiosamente triste do whitest boy. Imaginei-o anos atrás, guardando seus sonhos num cofre e perdendo a chave em seguida. Imaginei uma moldura envidraçada mantendo todo seu lirismo guardado, junto de um martelo pendurado ao lado. Sua expressão não mudaria durante todo final de semana, permanecia a mesma, como seu embrulho de sofá.
Apesar da limpeza, pairava na casa uma nuvem densa, vinda de uma meia-dúzia de idéias covardes perdidas ou trazidas de algum lugar dos anos 80.
Ao sair, uma caveira, com ossos à mostra e tudo o mais, levou-me até a porta. Não dava pra saber se era meu pai ou minha mãe, afinal nunca fui especialista em esqueletos ou técnicas forenses.
Era segunda e fazia um sol danado. A música caribenha que escapava pelo quintal do lado, fugia junto de uma risada infantil. Guardei-a no bolso da camisa de forma discreta, pra soltar depois, junto com a fumaça de um baseado de skunk queimado na estrada. Voltaria pra cidade, pra minhas dívidas e todas nossas loucuras urbanas. Ainda com saudade de meus velhos, dirigia descalço, com um frasco de Metadona na mão direita e a cabeça bem além dos 140 por hora. Tudo assim, sem muito açúcar.

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