terça-feira, 3 de abril de 2007

Eu odeio filosofia

Benny voltou da cozinha com uma garrafa de vodka nas mãos. Desde que chegou, Vick estava daquele jeito, e tirando as vezes em que ela se levantou para pegar um pouco mais de suco na geladeira, não parecia ter se movido. O problema é que a ficha de que estava pelada em cima de uma dessas esteiras de yoga falando aquele monte de bobagens, só havia caído agora que ele voltara da maldita cozinha. Com a garrafa numa das mãos, um balde de gelo em outra e um cigarro trôpego quase queimando seus lábios, ficou alguns minutos parado no hall da sala.
-Que houve Benny? Cê voltou a cheirar? – disse Vick, nua em pêlos.
-Cê tá pelada Vick? – respondeu.
-Desde que você chegou.
-Cê tá falando toda essa merda sobre mais-valia, proletariado, Grécia, vibradores, histeria feminina e o escambau, pelada?
-Qual o problema? Você acha que meu corpo esvazia meu discurso?
(pausa)
-Não.
Benny parecia não ter se acostumado com a atmosfera universitária. Todos aqueles livros de autores franceses espalhados, aquele monte de bebidas baratas e drogas malhadas, aquela falta de banho. Nada daquilo entrava muito bem em sua cabeça. E agora que tinha finalmente reparado, percebeu que não só Vick, mas várias pessoas estavam peladas. Como um bom carcamano moralista, saiu pra tomar ar no quintal. Beth estava lá fora sozinha fumando. Aproveitou pra filar um.
-Me arruma?
-mmm.- ela estendeu a mão levando o maço mais perto.
-Se importa de eu fumar aqui contigo?
-mmm. – Beth sacudiu a cabeça liberando sua presença. Ela também estava sem roupas.
-Porque eu tenho a sensação de que tá todo mundo nu?
-Sei lá Benny, cê devia relaxar mais cara. As provas estão te deixando tenso.
-É. Deve ser isso. Malditas provas. – disse sem muita convicção.
A lua estava imensa como há muito tempo não se via. Benny resolveu ir pra casa. Aquele ambiente parecia tê-lo deixado cansado. Precisava de um pouco de normalidade, de um noticiário sensacionalista, de um achocolatado, de uma ex enchendo o seu saco ou só de um pouco de raiva. Qualquer coisa que o trouxesse mais pra perto da realidade. Vick continuou pelada na sala até quase de manhã, mas não transou com ninguém. Repetia para qualquer ereção mais espertinha que aparecesse em sua frente, que seu namorado estava de férias no Marrocos. Provavelmente trepando até com camelos. Já Benny, em casa, só reparou a folha colada atrás de sua camisa no dia seguinte. Trazia "eu odeio filosofia" escrito em letras garrafais.

Nenhum comentário: