terça-feira, 7 de abril de 2009

Sonho

Aquele gosto de almoço velho na boca precisava de ar. Já não acreditava mais no destino, preferia arruinar qualquer suspiro de histórinha que entrasse numa de começar com início, meio e fim. Chatice de cu é rola. Agora era ele e aquele jornal cheio de idéias ruins para o final de semana. Agora era desistência pura. Agora era seu rosto se enchendo de alegria, olhando-se no espelho ao chegar do trabalho, cheio de cravos, pele oleosa e dentes amarelos. Não costumava se dar bem com as vitórias mesmo, queria é comemorar as derrotas. E acompanhava com desdém aquele lenga lenga de olhar sua vida tornando-se melhor, sempre que uma porrada disfarçada de desencanto, acertava-lhe um tabefe no meio da cara. Com o romantismo novamente apurado, poderia virar o sonho de qualquer mulher ou justamente aquele vacilo que todas têm a gana de partilhar em sua biografia. Novas músicas, novos livros, novas histórias novas.
E aquele gosto de almoço velho precisando de ar. Não poderia ser diferente, ao acordar aquela hora com restos de comida pela casa inteira (incluindo sua boca). Arrumou sua camisa social preferida e foi trabalhar. Estava morto. Era um morto cheio de vida, diga-se de passagem, como aquele sonho reincidente, que vivia soltando uma âncora em cima de sua realidade medíocre.

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