segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Papo reto

Não era você que estava querendo tanto um pouco mais de responsabilidade? Uma coisa menos beginner que um bichano pra cuidar ou aquelas aulas de trompete que mais faltava do que outra coisa? Agora fica aí se esquivando entre o teto cheio de teias de aranha e o pôster clichezão do Warhol. Clichezão. Taí o seu problema. De repente esse lance de insistir em andar com a coleção retrô que deixa seu profile mais parecendo o de um hype afetado que assaltou o armário dos avós, anda atrasando sua capacidade de raciocinar. Não dá pra negar que essa voz que bagunça seu oco, já cansou de guiar suas paranóias mais cruas e assar suas batatas mais quentes. Quando o peito te deixa tão cansado a ponto de mijar com a bunda na privada, seu relógio tá atrasado e seu tempo já acabou: se manda.
No bar a maneira que apoia os cotovelos no balcão não inspira uma dose de malte, mais parece pedir um copo de achocolatado. Sendo assim é melhor partir e passear com o vento esnobe que sopra quando bem entende, não liga a mínima pra você. No café da esquina mais um jornal e motivos para comprar revistas que não deixam colocar em prática esse seu discurso anticonsumo de quinta. Uma gostosa lendo algo inútil só serve pra trazer a lembrança de outro pé na bunda, até o delay em sua cabeça cansada, lembrar que foi justamente você que abandonou sua última namorada. Com esse estímulo torpe fica fácil arcar com suas atitudes mais vis. Elas são coerentes com seu jeito vazio de ser. Não é nada bonito ficar tomando tantas decisões ruins em sequência. Tá na hora de buscar um pouco de inocência nessa sua atitude punk.
Na falta de um motivo pra pegar o carro, fico entre o alivio do metrô e o asco de um ônibus lotado. Vou a pé com você, pregando em sua cabeça a necessidade de uma nova ida a farmácia. É preciso comprar analgésicos e olhar com certa graça pra camisinhas que, contrariando sua lógica contraceptiva, reproduzem-se nas gôndolas, cada vez mais coloridas e com promessas diversas ao literal gosto da freguesa. Coisas que não servem pra quem usa aquilo que você chama de cuecas, velhos panos que ao menos não me envergonham a ponto de inventarem algo diferente do estilo boxer.
Na portaria, outra gostosa, pra variar acompanhada. Mas já não adianta dizer que seu par é um cachorro, uma ótima forma de puxar conversa. As frases que pipocam em sua saliva seca não empolgam com esse frágil "boa tarde", que mais parece um fim do dia. Ela sorri mesmo assim e insiste em lembrar sua vaidade que elas estao aí e sim, mesmo com essa sua mania de querer sempre enxergar o que nem eu vejo, querem trepar contigo ou quem sabe viajar pra dentro desse seu mundo vazio.
Ao final do corredor não temos mais tempo pra monólogos. Não tem jeito, acabou de me ver. Não vá dar uma de covarde agora. Sou eu mesmo, mas esse soco seco me transforma em um abstrato espelho quebrado. Teu sangue respinga em meus percalços pontiagudos e desce como melado, de forma serena. Serve direitinho pras conclusões desse nosso papo reto. Pelo menos ao que parece você está vivo, cara.

Um comentário:

THORPO disse...

Um dos teus melhores.