sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O maratonista

Enquanto corria a igreja ficava um pouco maior lá no horizonte. Era parecida com meus pecados, que dia após dia insistiam em não diminuir. As pedrinhas faziam cama pra uma cançao que só em minha cabeça faria sentido. Rimavam de forma desconcertante com aquele cheiro ainda vivo sobre meus pulsos, minha nuca e principalmente acolchoado em minhas mãos. Meus dedos agora escoravam o capim ao longo da estrada e espantavam mosquitos moribundos, sossegados pela manhã daquele pedaço de vida quase rural. A corrente de prata em meu pescoço flutuava, em uma dança coreografada e banhada em luz, com uma cruz agora não mais prostada em meu peito solitário e pouco solidário. A poeira subia abafada pelo frio entrecortado por rajadas de vento quente. Umidade aparente em suor, empapando minha blusa de algodão cru. Sozinho estava agora, como sozinho estive nos braços dela. Já ofegante avistei as escadas do casebre de madeira marcada pelo tempo. Sem tomar fôlego subi de mãos dadas ao ranger de tábuas inconscientes. Precisava perdir perdão ali. Deus saberia como aconselhar minhas desgraças. Tínhamos esse trato. E por isso eu corria. E corri até a velha igreja e caminharia com um sorriso estampado após pedir sua benção. O espírito santo que desse um jeito no peso dos meus erros. Porque aquele cheiro doce logo deixaria minha pele sossegada e minha cabeça em paz.

Nenhum comentário: