terça-feira, 8 de abril de 2008

14 tatuagens

Contei e ao todo eram 17 tatuagens. Olhava os detalhes e ainda assim não conseguia lembrar o que fazia no dia em que pintei meu destino com cada uma delas. Um cheiro de cerveja velha permanecia no ar, aquele lugar nunca tivera a chance de sentir outra forma de aroma. Um maldito som com uma batida grave e distorcida vinha e voltava com o vento pela janela. Estavam todos presos e eu ali naquele hotel. Estavam todos se fudendo e eu ali como um maldito relógio, esperando minha vez de ser trancafiado ou morto numa tentativa de fuga. Minha insegurança podia prever o futuro. Sempre achei astrologia coisa de charlatão, mas ali eu era capaz de prever friamente que erraria todos os tiros. Talvez com sorte, se mirasse no quadro do banheiro acertaria o peito do primeiro filho da puta que atravessasse aquela porta. Minto. Lembro-me sim da nona tatuagem. Era minha santa, minha protetora. Uma vez li numa dessas revistas metidas a explicar a história contemporânea, que essa característica de tatuar ícones religiosos era coisa de latinos. Eu não era latino. Era italiano. Era um merda de um italiano. Um italiano que não podia prever o futuro, mas podia enxergar minha mãe chorando ao lado de alguma janela em algum bairro do subúrbio. Esperando-me chegar, cheia de lágrimas nos olhos. Com aquele mesmo copo cheio de saliva seca e batom doce nas bordas. O mesmo uísque. O mesmo meio lexotan. Ela seria capaz de fazer qualquer coisa pra me tirar dali. Qualquer coisa.
Meu coração batia cada vez mais acelerado. Aquela música de gueto vinha e voltava com o vento. Contei novamente. Realmente eram 17 tatuagens. Cheguei ao hospital com 14. Meu braço ficou lá naquele quarto com cheiro de cerveja velha. Cheio de anéis e uma poça de sangue contida. Bela saraivada nos ombros aquele merda acertou. Não deu tempo nem de mirar na porra do quadro do banheiro.

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