terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Clandestino de mim mesmo

Sento e apago o que escrevi três vezes seguidas. Vou até a metade da lauda e jogo tudo fora. Tudo parece artificial, montado, quase uma novela ou um tipo de folhetim que me irrita. É como se estivesse evitando escrever sobre o que realmente quero. Não preciso me enganar. Não mais. Tô cansado de saber que escrevo quase sempre atormentado pelo que tô sentindo no momento. É uma doentia forma de terapia, eu sei. Mas tô cagando pra isso. Não olho pra tua foto porque não tenho nenhuma. Penso como seria melhor ter uma ao invés de me torturar com a imagem que tenho de você em minha cabeça. Nela eu não te vejo. Na verdade vejo tudo preto porque a imagem que tenho de você é a mesma sensação de quando estamos fazendo amor. As melhores partes pra mim são quando tô de olhos fechados. Isso apesar de adorar quase de forma doentia olhar seu corpo nu deitado em minha cama. Toda suada. Seria melhor ter uma foto empoeirada pra queimar com um cigarro acesso ou jogar fora depois de rasgar em duas ou três partes. Mais que isso soaria meio gay.
Concentro-me depois de fumar quase meio maço de cigarros e começo a escrever novamente um desses meus textos doentios que só servem pra me acalmar um pouco antes de dormir. Demorei um tempo pra perceber como eles funcionavam muito melhor do que remédios ou uma ponta. Olho um short meu caído no chão junto de meias suadas e uma camisa pendurada na maçaneta do banheiro. Dá pra ver da minha cadeira nesse meu conjugado do tamanho de uma caixa de fósforos. Sinto falta das corridas de vez em quando. Fico lembrando da época em que não fumava, acho que tinha mais gás. Olho pro Nevermind pregado na parede e me sinto tão velho que seria capaz de admitir até que não ligo mais pra isso. Não ligo pra muita coisa depois que a gente tentou tanto pra desistir no final. Sinto-me uma espécie de clandestino de mim mesmo e penso em voz alta sobre qual será o próximo projeto que vou me enfiar. Pergunto-me onde vão parar minhas tatuagens que nunca termino e porque gosto tanto desse fracasso que me ronda, num refluxo que me puxa do topo pra baixo e do limbo pro cume sem eu nem perceber em questão de segundos. Porque eu tenho que comer ela se quero você? Não. Desisto de ficar me perguntando coisas. Da última vez que tentei isso quase entrei numa espiral sem volta. Prefiro continuar sem me esconder de meus sentimentos e agitar aquela viagem que já tava fazendo aniversário pra sair. Vou entregar as chaves dessa merda e partir pra uma nova trip. Não tô desistindo de nada, nem desistindo de você. Não conseguiria mesmo. Tô precisando é de uma tela bem grande e sentir o cheiro do meu novo livro no prelo. Como isso me dá saúde. Lembro até hoje do primeiro. Eu na gráfica, sentindo aquele cheiro de tinta mesmo com o nariz branco de tanto pó. Finalmente havia sido publicado. Podia me considerar um escritor.

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