segunda-feira, 5 de março de 2007

Assim

Quero-te simples como esta janela.
Dela dá pra ver a praça, as folhas no chão.
O sol do céu parece sem graça.
Pra ele qualquer um pode estender a mão.


Celebro toda a paz das vontades fúteis. Toda a liberdade fajuta desses belos fins de tarde.Todos meus gostos e vícios massificados. Tudo o que não é glamourizado. Minhas vitórias fáceis e absurdas. Meus mais brilhantes fracassos. Aquelas vontades de beira de estrada. Uma música de rádio amarelada. Tudo o que corre o risco de ser burro e unânime. Hoje quero esse tipo de sensação. Talvez por estar realmente cansado de dar qualquer tipo de satisfação. Urro de felicidade a cada simples conversa em que podemos chegar além. A cada frase em forma de sussurro, aberta em um espaço coletivo que joga fora a dor. Ou troca ela por algo maior. Essa cumplicidade que o acaso incita. Quilos de incertezas do fundo de nossas entranhas, para as companhias que a lua escolhe como os melhores ouvintes. A legitimidade que a coragem dá. Celebro seu sexo lindo. Celebro nossos erros em forma de poesia suja e nosso amor em forma da mais linda busca. Dou-te o brilho de cada lágrima que permito deixar cair. São suas. São minhas. Minhas dores. Nossas dores. Dores do mundo. Buscas que de tão justas merecem o reconhecimento de continuar. Sabem que esse caminhar aviva. Que quanto mais troféus essas prateleiras suportam, mais acabo me distanciando dos lugares seguros. Mas não caia na tentação de ter medo. Minha excentricidade será uma simples rebeldia inexata, porque ela nem sempre existe. Ela pára. Ela se balança na rede ociosa dos sonhos pueris. De cada avião que vejo no céu e penso "pra onde será que vai esse desgraçado?". Achar que mereço ter você é um achado raro, que mistura a certeza de todo nosso amor e de todo o nosso fracasso. De todo o nosso passado e futuro raso. De todo ensaio que amasso e jogo fora. De toda saída com jeito de quem realmente vai embora. De todo aquele teu lindo sorriso de sofá. De toda essa baía de dúvidas. Mereço esse anzol preso em minha boca e este alvo pintado em minha cabeça. Sei que meu peito acha bonito ficar desprotegido, mas não me sinto aflito. Sinto-me forte. Tatuado. Rumo a tudo que desconheço. Rumo à minha sorte. Rumo ao barulho de cachorros latindo no quintal. Latidos de "oi". Porque latidos de medo eu deixo pra você. Porque folhas secas de outono eu deixo pra você. Porque as velhas intrigas inúteis eu deixo pra você. Fico com a chance de não te prometer nada, nem amor desatinado, nem abrigo. Nem o mais puro riso. Se te quero é assim.

4 comentários:

Grupo disse...

Caramba, vejo que andas escrevendo mais...
Eu e uma colega de faculdade, analisamos a maioria dos textos que você publica, as vezes notamos você triste, outras vezes feliz e assim que eu chegarmos a um consenso sobre esse novo post eu comentarei novamente!
Obrigado por escrever tão bem.

MoiZa

André Aires disse...

Caralhou...
Perfeito, profundo e perfeito!!!!
Não tenho palavras. Continua nessa engrenagem que vc tá arrebentando meu coraçãozinho ogro. Não pare não. Abraço, guerreiro.

Julia Maia Lambert disse...

ei...
só queria te dizer que li os seus ultimos textos pelo menos 3 vezes cada... e continuo entrando aqui e lendo de novo!!!

saudade porra!!!

i disse...

Porra, muito bem escrito, impossível desgrudar o olho!