terça-feira, 1 de agosto de 2006

Sobre sombras

Carente de língua, dor e falta de assunto. Tô afim de uma coberta, um DVD ruim que fica bom com você ao meu lado e planejar viagens de final de ano. Sinto falta de sentir falta de um cheiro. Qual é teu cheiro? Quero sentir medo de altura contigo. Medo de perder você também. Tô enjoado de carregar essa coragem chata que me deixa forte e só. Quero Radiohead alto. Preciso de uma cabeça cansada apoiada nesse meu ombro largo. Quero ter razão, mas discutir pra te ver com essa cara de puta que tanto me diverte. Olhar pro teto me sentindo só enquanto a porta nem sequer terminou de bater. Escutar seus passos vivos ecoando no corredor oco e seco, fazendo-me refletir pela milésima vez sobre a credibilidade de meu afeto fácil. Ciúmes. Preciso sentir ciúmes novamente pra azedar essas minhas noites estreladas de atrações artificiais tão doces. Sentir minhas veias se rasgando pelo ódio sufocado em ebulição a cada simples trejeito ou olhar que você disparar contra meu peito, certa, totalmente certa de estar me atingindo em cheio. Quero aquela espécie de paz alienada que só quem está tonto de amores é burro o bastante pra sentir. O tal azul, essa porra desse tal clima azul que tanto confabula e deixa belo, certos caminhos errantes. Peço novas decisões importantes. Daquelas que me façam pensar duas, três ou quatro vezes só pelas consequências que possam trazer pra você, que vacila na mesma proporção que encanta essas minhas páginas em branco. Quero sentir no carnaval aquela raiva de estar ao seu lado só de birra, porque não estar ali provavelmente tornar-me-ia o pior folião do mundo. Quero ficar em forma pra poder te comer melhor. Sentir nossa transa fluir e melhorar a cada cama nova, a cada noite nova. Quero achar graça de te achar linda, descabelada em manhãs cinzas de nossos neuróticos invernos ácidos. Preciso de outros livros que criem tempo só pra mim, por causa dessa porcaria de relação que acaba deixando todos meus segredos e segundos com algum tipo de subserviência aos seus relógios. Quero aquela independência, aquela alegria meio sinistra que faz crer que no fundo, no fundo, sou mesmo só eu e minhas idéias subversivas de canto de estante. Serei sempre eu e minhas olheiras. Eu e meus destinos tortos. Eu e minhas letras de Amarante. Saber que sou fraco pra cheiros novos. Mas isso tudo só enquanto você não vem, enquanto você não chega. Até porquê prossigo. Sigo observando da janela ondas quebrando sobre outras ondas. Espirrando espuma em cima de estrelas, conchas, pedrinhas e vácuos. Espirrando sobre sombras. Sobre minhas próprias sombras.

4 comentários:

Grupo disse...

Nóssa, parabésn. Esse foi realmente muito tocante, tanto, a ponte de me deixar com saudades da minha amada, se é que você fez isso destinado à sua.

Muito profundo, entretanto, calmo. Gostei mesmo, foi um dos melhores.

MoiZa

Eloqüência disse...

O sentimento não muda

Bruno Azalim disse...

caraaaaaaa
você escreve muito bem!!!

tá adicionado nos links do meu blog já...

meus parabens!

Anônimo disse...

Esse sem dúvida é o melhor, tranquilo, suave, saudoso e apaixonante.
Parabéns.