domingo, 15 de janeiro de 2006

Mosaico

A falta de lógica estava presente em cada pedacinho de sua existência estúpida e genuína. Um shot de tequila servia pra ligar, conectar, servia pra matar a sede. Toda espécie de sentimento puro pairava naquela trajetória às vezes sombria, às vezes lírica. Dançava meio sem jeito, andava por balcões sempre pedindo outra, mais outra. Funcionava assim: praticamente tudo era poesia. Cada fio de sua barba mal-feita denunciava a vida que pedia pra nascer e não queria sequer cogitar ser podada. Caixas de som tocavam canções de amor enquanto dor pulava, saltava de suas veias, esparramando-se pelo chão. Conhecia o chão com a intimidade daqueles que realmente já passaram momentos difíceis. Agradecia a Deus com o desapego daqueles que nunca passaram sufoco. Seu corpo era um emaranhado de desmanche. Era a composição nada sólida de todas suas experiências vividas. Seus olhos eram sua caneta, que insistia em não parar, escrevendo tudo, falando tudo, conversando aquele tipo de conversa carregada de simbologia em cada linha, em cada palavra. Palavras que saltavam das estantes de sua mente inquieta. Palavras que davam as mãos numa coreografia fantástica. Palavras que podiam carregar a magia de em um certo momento dizerem tudo, para de forma mágica no instante seguinte não falarem absolutamente nada. Trompetes, trombones, saxofones e toda a sorte de metais faziam cada passo dado amaciar a calçada nas ruas de forma sutil, quase como aquele carinho típico de quem anda sem destino certo. A morte era algo tão distante que parecia descansar no muro alto das impossibilidades literárias. Flores rodeavam seu jardim de egoísmo demonstrando bem que a beleza pode ser traiçoeira quando sabe onde quer chegar. Seu verbo mais conjugado era simples como um gole de vinho tinto seco em tardes de frio e chuva num céu preto. Amar. Gostava de amar. Queria amar. E assim trocava telefones que tocavam e davam pra serem ouvidos ao longe, como sementes pairando no ar, carregadas pela sorte do vento. Tudo isso fazia muito sentido pra ele, podem acreditar. Era como ilustrar os sonhos da criança mais cândida. Era como estender a mão pra quem se afoga. Era como alimentar o faminto e dar luz ao cego. Poesia. Crescendo em cada espaço e fresta de chãos de casas de madeira e teto cheio de infiltrações movidas pela chuva das fantasias que molhavam suas idéias.

2 comentários:

Paulo Lima disse...

Ducaralho!!! Muito bom os seus textos Bartoli. Me identifiquei muito com seu estilo metafórico e fabulário de escrever. É muito bacana o lirísmo que você acresce a realidade. To lendo um a um os seus textos. Continue postando.

Quando puder dá uma conferida no meu.

Abraço.

Anônimo disse...

humm...nao sei se citei o nome de uma das igrejas no nosso papo...Mosaic!