sexta-feira, 23 de março de 2012

O soco

Um soco. E lábios comprimidos, quase indecisos, contra meia dúzia de dentes submissos, até se romperem. E sangue. Ossos curvados dentro da espuma, em um quase transe de dedos longos fissurados. E suor. Adrenalina encharcando seu queixo de vidro, quebrando-se como porcelana. Prévia do seu corpo caindo em torso nu. Desabando com a leveza sutil, levemente desesperada, de quem flutua de forma quase orquestrada. São séculos até chegar ao chão. Que quase como labuta, delimita seu espaço de forma bruta, o mais distante possível daquele mergulho na cama da mamãe. E feito um prelúdio em som seco, afável e grave, ele explode como uma onda sonora. O bafo quente de ar varre insetos como um bêbado cospe fumaça, coreografando milhões de partículas de poeira. Ao seu redor tudo dança, tudo gira distante da tranqüilidade proporcionada pela lona. Um silêncio do tamanho do mundo se agita. O sangue estica suas mãos e une-se ao chão. Vermelho, ele abraça uma logomarca esquisita, colorindo aquele monótono desfile cinza com sua mancha disforme. Seu coração oco vibra, contrariado, contagiado pelo hemisfério sul daquele soco.

Nenhum comentário: