terça-feira, 26 de julho de 2011

For Jade

Cambaleante como as linhas nada simétricas de sua maquiagem borrada, abriu a porta do bar. Trajava uma coleção de motivos pra ser expulsa dali, todos mais ou menos aparentes. O céu nublado em suas narinas contrastava com pupilas dilatadas como dois astros, obstinados em fazer do chão seu mapa para uma última e curta caminhada até o balcão. Enquanto ela pedia uma dose de gim e uma cerveja, eu só conseguia fechar os olhos de todos os meus planos de constituir família, como se eles fossem uma criança impedida de ver algo. E minha tristeza me trouxe beleza e sua voz me trouxe soul e nossas coincidências não fizeram o menor sentido. Dividimos um pouco de pó e logo estávamos numa espécie de mezanino, num bar de apenas um único andar. Lá de cima assistimos a noite virar dia e por ela, juro, não me importaria em perder a noção do tempo. Desenhei com uma faca seu nome em minha mão e, ferido, fiz pouco caso do meu corpo por sua causa. Mas o tempo passa e a morte invade nossa festa como um vizinho pedante. E dessa linha não posso ultrapassar, não dá pra pular como numa área interditada pela polícia. E fico te olhando daqui, baby. Fico olhando tudo o que estão fazendo contigo sem poder fazer nada. Meu anjo se foi e até hoje olho minha mão sã, procurando toda insanidade e todo o sangue daquela noite. Agora meus planos podem enxergar novamente. Talvez até ganhe um bom dinheiro e complete algumas maratonas por ano. Mas sem você ficou sem graça deixar essa cambada de imbecis atônitos toda vez que ultrapasso meus limites.

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