sábado, 2 de outubro de 2010

Mulheres que escrevem

Elas têm uma segurança que ameaça. Uma inteligência que intimida. Geralmente sabem se vestir muito bem de um jeito que não acompanha a moda cafona das vitrines. Esse alvoroço não combina com elas. Confesso que todas mexem comigo. Sinto-me indefeso, meio deslumbrado, acho que vou ser desmascarado a qualquer minuto. Minhas convicções em sentir-me uma farsa são baseadas integralmente nelas. As danadas me emocionam. Esse lado quase negro da vida surge como um segredo entre nós. Não acreditamos no mundinho perfeito, nas famílias da TV com casais de filhos e suas medalhas de judô. A gente até quer acreditar nisso (elas um pouco mais). A gente até pode acabar assim. Mas é mais divertido e lógico esse nosso costume de enxergar a beleza da vida sem filtros. A gente curte essa escrotidão. Mesmo porque achamos o belo em si realisticamente encantador. Os desvios de caráter, as atitudes intempestivas ou movidas pela pressão, as maldições do amor, a marginalidade intelectual. Tudo isso é real, é visceral, é dia a dia, e em alguns casos, pasmem, até status quo. Acredito nesse clichê bunda-mole que prega não existir personagens de papel único por aí. Seria tedioso demais. É de uma inocência grotesca achar que as pessoas podem fazer parte de algum script. Por isso em nosso sangue corre essa coragem besta que nos afasta do medo. Por isso elas me conquistam como um manifesto mal escrito, como jovens seios duros, como dezenas de primeiros discos, como um corpo nu nos segundos que precedem um esporro. Prefiro as sarcásticas, as despudoradas, as loucas, as de passado duvidoso. Prefiro as putas, as neuróticas, as mimadas, as que já não têm esperança. São somente elas que podem me divertir enquanto sigo deixando claro pro mundo o quanto posso fazê-lo sorrir. São elas que me deixam de pau duro, cabelos arrepiados e mudos, com a boca seca de tanto querer. Elas são toda essa lama viva que invade minha cabeça quando busco alguma compreensão. Elas são a mãe que nunca tive e a família perfeita que o mundo inteiro jamais vai ter. São minha fonte, meu desejo, toda essa nossa vontade de foder. São elas, malditas, as mulheres que escrevem. Responsáveis pelo pouco sentido que os bares têm, em motivar conversas ridículas, aos doces momentos que, pródigos, podem bicar pra longe o infame medo de errar. Nosso hábito de discordar em conluio me liberta. E elas seguem tolerando minha farsa por acreditar que todos os meus eu te amo etílicos, nasceram sonhando em ser ditos no altar.

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