quarta-feira, 3 de março de 2010

Loop

As decepcões continuam as mesmas de sempre. Quanto mais expectativas, quanto maiores os planos, quanto mais você fica olhando aquela foto recortada na carteira que faz todo o seu discurso trendy cair por terra. Quanto mais isso acontece, maior será a vaca da decepção. Não dá pra lutar contra ela. Aí você olha pra sua barriga e pensa em comprar o aparelho que um freak na TV anuncia. Ele dá choques. Mas você não quer ficar em forma. Quer acordar. Quer tomar choques como um paciente numa maca, na emergência de um hospital público. Afinal tudo de novo cansa. Dá trabalho demais se apaixonar novamente. E você escreve seus piores textos. Volta a sentir azia e a ligar pras mesmas vadias que vão dar pra você com um brilho quase vingativo no olhar. Dá pra ler o balãozinho fofo de seus pensamentos, como em uma história em quadrinhos, ele diz "eu já sabia". E você goza. E você ri. E você se droga. E você bebe. Bebe mais. E você entra dentro de seu próprio quarto escuro de novo. Aí a merda da luz chega. Bate no seu ombro e explica tudo. Aquele mesmo blá-blá-blá sobre você ser o cara, ser muito melhor que isso, sobre encontrar alguem melhor que ela. Afinal ela era uma mimada mesmo. Era uma egoísta. Não era boa suficiente para você. E tolo, você acredita. E já não come mais qualquer uma que chama você iluminando o quarto pela tela de um celular vibrando. E volta a ler. Volta a assistir aquela mostra de cinema que mudou até de patrocinador. Volta a escrever alguma coisa digna. E passa a beber menos. E tem muito mais tempo para si, pra organizar seus pensamentos. Começa a produzir mais. Vira novamente um cara bem interessante. Mas um belo dia um par de olhos cruza seu caminho num bar, numa calçada, numa rede social brega ou no meio de uma festa de quinta categoria. E papo vai, papo vem e ela curte vinil e você adora Crumb e ela te beija com os olhos fechados e você anota um novo número na agenda. Mas em pouco tempo ela vai achar infantil curtir Crumb. E você vai achar muito wannabe curtir vinil. E você vai sentir falta de sua ex. E as decepcões, vão continuar as mesmas de sempre.

Um comentário:

Lívia Mª Moura disse...

Não as mesmas. Elas mudam de lugar, e encontramos no novo olhar e no vinis ouvidos com este o que o olhar antigo não nos proporcionava. O encantamento pelo o que faltava, junto com a comparação: "agora está bem melhor! antes era frito, agora é assado". Depois que o assado se torna ressecado, sem gosto e demasiadamente "light" e sentimos saudade de lambuzar os dedos da gordura, que outrora nos parecia tão insalubre...