terça-feira, 16 de março de 2010

Jacira e a italianada

Sua roupa fedia a cachorro molhado e não era lá uma das coisas mais recomendáveis chegar próximo a ele. Estava tudo escuro dentro daquele porta-malas fechado. Depois de milhares de dias comuns em sua vida, com pequenas variações de rotina, uma ou outra promessa não cumprida e um emprego mais sem sentido que o outro, estava ele ali. A cabeça doía. Não sabia se ela estava molhada ou sangrando. Não sabia muito bem o que estava acontecendo. Deixou o batente e foi até a esquina como de costume, pra tomar um aperitivo antes de jantar mais um congelado em casa. Agora era aquela escuridão total e um cheiro de chuva com mato, que começava a preocupá-lo. Estava claro que o perímetro urbano ficara pra trás. O tédio era desafiado a cada tranco ou pulo que uma suspensão de merda mais algumas ruelas de terra, proporcionavam ao seu corpo ridículo. Em suas idéias vagamente surgia a lembrança de um cu. Logo a cabeça voltaria a funcionar. Era uma bunda que sorria pra quem sabe exatamente como identificar o sorriso de uma. Sua dona escrevia em um caderno algumas anotações a esmo. Chegou a pensar se tratar de uma dessas escritoras que dão pra qualquer cara que as faça chorar. Ficou tentando imaginar o que traria até aquele lugar uma bunda como aquela. Algumas disfarçadas varizes em suas pernas maduras, conseguiam excitá-lo ainda mais. Planetazinho triste o nosso, cheio de depravados parecendo gente normal. Preso dentro daquela máquina enferrujada que corria feito um cavalo selvagem, parecia mais calmo só pela ligeira lembrança da ultima boceta capaz de virar seu mundo do avesso. Tentou voltar mais no tempo. Lembrou de sair pela manhã e esquecer a roupa na máquina de lavar por outro dia. Depois de repetir a mesma camisa no trabalho por toda a semana. Depois lembrou de Jacira e de seu papo desconexo sobre sequestrá-lo se o visse com outra vadia na esquina do trabalho. Ela disse que o mataria. Depois lembrou do que pensou ao tirar a calcinha daquela bunda-do-par-de-pernas-com-varizes-do-bar. Subitamente um barulho chamaria sua atenção para logo em seguida, seus olhos serem banhados e maltratados pela luz de um poste amarelo. Do porta-malas aberto dava pra enxergar com seus olhos tímidos e semicerrados, a italianada disciplinada. Estavam formados como jogadores de rugby, só que portando armas, trabucos e pistolas. Pareciam felizes e o som do Crystal Method vazava pelo fone sofrível do ipod de um deles. Os irmãos de Jacira eram difíceis de engolir, mas até que se vestiam bem. Depois de perceber o que estava pra acontecer, relaxou. Achou de forma até comovente e sincera, que valia a pena morrer por aquele cu.

Nenhum comentário: