quarta-feira, 19 de agosto de 2009

8 de setembro

Depois de beber meu vinho e comer da minha comida você se levanta. Observo seu corpo frágil tomar partido, num vestido que valoriza cada curva de sua geografia perfeita. Agora não temos mais segredos. Agora sabemos que somos feitos um para o outro. Procuro minhas chaves e observo meus pés em movimentos infantis como dois animais que se tocam, esperando o tempo voar. Você bate a porta e meu tédio começa. Passo meus dias sem tensão, sem brigas, sem discussões. Sinto falta de nossos destemperos, do ódio em seus olhos ao me fitar de forma convincente, no auge de nossa falta de paz. Quero uma mulher que possa me matar a qualquer instante. Quero esse perigo de vida me assombrando. Sua seiva me alimentando. Suas olheiras me fitando. Quero achar infantil todo texto de amor que não abra espaço pra espelhar nossa história. Você é minha bailarina que dança e convence com seus passos, sem medo, rodopiando em minha biografia. Espalhando papeis, trocando a ordem natural de minhas memórias, desarrumando tudo e criando um lugar próprio só seu, dentro desse filme. Faço cinema com você e representamos algo que nem existe. Seguimos repetindo de propósito todas as nossas cenas de amor. É tudo verdade pra gente. É tudo mais grave, mais simples e minha voz vai ser sempre aquela que te conforta. Te apoio e faço isso com naturalidade orgânica. Minhas entranhas estão vermelhas de raiva. Meu corpo marcado, quer ser levado de volta por todas as outras mulheres que jamais entenderão que fui feito assim, já nasci escrevendo o final feliz que quero viver. Escolhi você e isso é um ato de amor. Escolhi você e somos nós que vivemos juntos. Nossos erros são minha culpa. Nossa beleza é fruto dessa falta de importância dantesca, sobre saber até onde vamos. Eu acredito no eterno. Amanhã é outro dia e hoje, isso pra mim já é tempo pra caralho.

Um comentário:

André Aires disse...

DE dar inveja, amigão. No literário e no não literário.

abraceta!!!!