quinta-feira, 26 de junho de 2008

No balcão

O problema é que ninguém quer se fuder mais. Esse papo de sofrimento raso acabou enjoando quem tá chegando agora no mercado. Acho até que a proliferação do sentimentalismo barato espantou a garotada. Agora o negócio é se dar bem. Não dá mais pra perder tempo investindo em coisas que não te dêem a certeza de algo em troca. Impossível pensar em alguem saindo pra um programa lixo, ciente que a boa é exatamente a programação indígena mesmo. Isso me enoja, cara. Isso me dá na porra dos nervos. Ninguém quer sentir a porra do cheiro velho dos livros da biblioteca pública mais. Ninguém mais quer ler. Ninguém mais quer investir na porra de uma profissão, cara. Quando era pequeno eu lembro bem do imbecil do Régis, estagiando com o pipoqueiro só pra olhar o peito da mulherada nas noites de sábado. Ele ficava lá com o português ajudando a fazer sei lá o que e seu pagamento vinha em uma fila de seios fartos e pipoca doce misturada com metade salgada. Pergunta se ele se arrepende disso? Claro que não, cara. Mas hoje isso seria no mínimo passível de cadeia. Seria um português safado explorando um moleque inocente. Pro caralho com essa merda dessas afetações. Eu sinto falta da época em que os desenhos eram realmente violentos e ninguém abria fogo nas escolas por isso. Ou pelo menos o jornalismo marrom e barato ainda não dava tanta grana e talvez por isso, evitava-se esse tipo de sensacionalismo tosco em forma de matéria exclusiva. Não, não venha me dizer que sou mais um daqueles caras chatos que preferem o passado não. Só preciso olhar nos olhos de algum filha da puta e perceber beleza no sofrimento alheio. Porra. Vamos sofrer, vamos sofrer! Sofrer faz bem. E não é sofrimento EMO não. Não precisa pintar as unhas de preto ou passar lápis na merda dos olhos. Basta sentar na porra de um boteco ou banco de igreja e deixar vir. Basta sentar na porra de uma pedra e meditar ou num banco de praça e olhar um pouco o absurdo onde a gente vive. As pessoas só querem se amar feito insetos sugando seus próprios sangues, cara. Cadê o amor? E caralho, cadê a porra da minha cerveja, Zé?

3 comentários:

Artur disse...

pra você que gosta de ler e gosta de absurdos.

http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1982/marquez-lecture-sp.html

É espanhol, eu sei... Mas vale a pena.

André Aires disse...

HAhahahahah. Maravilha.
Genial. Bravo. Ná próxima eu quero cantar.

Brrrruna disse...

Aplausos!