Quando você passar por mim vou tirá-la pra dançar, moça. E vou tratá-la bem. Escolherei a dedo os amigos que vou apresentá-la, moça. E vou explicar à eles todos os seus pequenos defeitos bobos, pra ninguém ousar magoar você. Eles vão entender, vão saber o quanto me importo contigo. Quando você chegar vou fazer festa, moça. Vou acender uma vela, colocar um vinil pra tocar e, quem sabe, construir aquele meu mojito cubano. Vou revelar nossas fotos e criar um monte de albuns coloridos com nossos melhores momentos, moça. Vamos trocar a minha cortina da sala e manter a tampa da privada abaixada. Quando você acordar seu nariz vai despertar com o cheiro do meu café forte. E vou comê-la como se você jamais tivesse tido tanta sorte. Nossas discussões, breves, vão ser intensas como devem ser as brigas de quem se ama. E os nossos sonhos, altos, vão ser impossíveis como cada utopia de quem sempre prefere ir além. Porque quando você acordar, moça, vai saber que eu não existo. Vai saber que sou humano e minha merda fede e no meu peito, tem um coração quente. E vai saber que minha pele rabiscada é pura obra de arte. Pelo menos pra mim, moça. Pois pelo menos assim a gente vai perceber que quando você passar por mim, não vou fazer mais nada. E como anjo que sou, não existo, sou incolor, não tenho mais cheiro. Nem vou estar mais ali, como deveria, pra trocar segredos com seus ouvidos enquanto danço contigo, sorrindo.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Saudade
Quando me faltam motivos é que me invade toda certeza de quanto ainda preciso de você. Vejo toda essa chuva, toda essa morte, todo esse estrago, essa falta de sorte, esse enfado, todo esse nosso desatino dormindo em quartos separados. Se tudo aquilo que construímos desabou, ainda temos nossa derrota como trunfo, pois dela, já não podemos passar do fundo. E esse pessimismo vira como o tempo, na frente de nós. Quem sabe não é uma nova chance de resgatar o que um dia já pudemos chamar, pasmem, de amor.
Entro dentro de outras mulheres úmidas, louco, e não vejo nada, apenas sinto você. Gozo em você, gargalho e sorrio pra você e quando meu pau, brincalhão, resolve se omitir, é fato, tudo isso é por causa de você. Sua cintura é meu caminho de volta ao mundo, em lugares com meu nome, que inventei pra te levar pra passear.
A gente sabe que todos os outros foram uns babacas, figurantes, uns otários de porte, que jamais compreenderiam essa sensibilidade com cheiro, meu norte, que mora em seu olhar. Em olhos, seus olhos, meus melhores amigos, meus únicos amigos. Incansáveis, eles sentem minha falta e sofrem. Fazem você andar por aí cabisbaixa, moribunda, sem vida, sem combinar com seus falsos sorrisos, seus falsos beijos e seus falsos arrepios de desejo. Porque tudo isso agora é mentira. Porque depois de mim é puro blefe. Você sabe disso. E a cada madrugada se toca e pensa em mim olhando pro teto do quarto ou pro teto do céu, negro, feito de estrelas que não conseguem fazê-la dormir como meu corpo quente e calmo faria.
A gente sabe que todos os outros foram uns babacas, figurantes, uns otários de porte, que jamais compreenderiam essa sensibilidade com cheiro, meu norte, que mora em seu olhar. Em olhos, seus olhos, meus melhores amigos, meus únicos amigos. Incansáveis, eles sentem minha falta e sofrem. Fazem você andar por aí cabisbaixa, moribunda, sem vida, sem combinar com seus falsos sorrisos, seus falsos beijos e seus falsos arrepios de desejo. Porque tudo isso agora é mentira. Porque depois de mim é puro blefe. Você sabe disso. E a cada madrugada se toca e pensa em mim olhando pro teto do quarto ou pro teto do céu, negro, feito de estrelas que não conseguem fazê-la dormir como meu corpo quente e calmo faria.
Quando me faltam certezas é que me invadem os melhores motivos pra escrever minhas palavras mais bonitas. Porque não quero mais estar errado quando sei que tudo o que mais preciso é de você ao meu lado, agora, me devorando, com seu corpo submisso, abdicando do seu chão. Sou tolo. Tão tolo. E meus gritos e minhas flores e minha poesia vão andando por aí em mãos erradas. E meus pés, sem chão, já não querem correr. E pra morrer, já basta meu peito que inventou meus pecados. E pra morrer, ao te ver, tão linda, já bastam todos esses nossos sambas que se bastam.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Vendi sua Kombi por uns litros de uísque
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