segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Sobre probabilidades

Como é foda poder ser ligeiramente ácido contigo e não sofrer as conseqüências sacais que uma suposta relação entre nós mais íntima traria. Esse sabor delicioso de poder ser franco com você (e não grosseiro, como infantilmente considera) me deixa nas nuvens. Não que eu me importe, pois já se foi o tempo em que isso ferrava meu dia. Aliás, nem sei bem se a expressão “nas nuvens” significa algo além do simples fato de flutuar de leveza quando ajo assim. Ser franco tem dessas coisas. É bom gritar sem expelir nenhum decibel sequer, um foda-se em caixa alta pra todo tipo de frescura sua. Juro que não faço isso por motivações pequenas ou algum tipo de recalque. A propósito: é até bom pra você, acredite. Ainda te acho linda e inteligente. Ok, menos do que quando estava contigo (atire a primeira pedra quem nunca flertou com o eufemismo). Acho sexy esse seu jeito contraditório também, mas percebo nem ser culpa sua isso tudo e sim do meu amadurecimento que trouxe de bandeja a calvície indecente que ando trajando, além da completa falta de saco pra ser diplomático. Chega uma hora na vida em que não há mais porquê um homem fazer sala . E aí você vira um fingido ou um insuportável (que fique claro que educação passa ao largo do assunto). Eu prefiro que ninguém me suporte. Já basta ter a idade que tenho e nem imaginar uma previsão pra começar a fazer os cinco filhos que minha família Claybon conservadora e preocupada com a violência vai ter. Pelo menos não me iludo achando que vou virar um guardião da moral. Tô mais pra virar um Hunter Thompson que abandonou a literatura, completamente careta e sem bagos pra cometer suicídio. Ou, reviravoltas da vida, acabar abrindo um boteco em Goa e morrer sem espaço no corpo disponível para mais tattoos, antes dos cinqüenta.
Lembra quando fui te levar no aeroporto naquela intempestiva ida à Itália? Aquele olhar que você fez ao entrar no check-in costumava diluir toda essa minha suposta capa ranzinza. Se foi verdadeiro valeu a pena. Tenho certeza que foi. Mas hoje não trocaria uma piada, uma constatação ou dizer o que penso, por nada neste mundo. Acho que você pode suportar bem isso. A gente nunca teria dado certo mesmo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Suas palavras derretem na boca, mesmo quando estão carregadas de sal e pimenta...

Grupo disse...

Ese négocio de mundo letrado naum sei das quanta, vicia!

Pobre Urbano disse...

Bela letra. O excesso de cuidados com um balde que não pode ser chutado pesa mesmo. Deve ser por isso que o mundo moderno anda leve o suficiente para fazer as pessoas andarem tão sem pé no chão...
Beijos

Anônimo disse...

"...além da completa falta de saco pra ser diplomático. Chega uma hora na vida em que não há mais porquê um homem fazer sala . E aí você vira um fingido ou um insuportável (que fique claro que educação passa ao largo do assunto). Eu prefiro que ninguém me suporte. Já basta ter a idade que tenho e nem imaginar uma previsão pra começar a fazer os cinco filhos que minha família Claybon conservadora e preocupada com a violência vai ter. Pelo menos não me iludo achando que vou virar um guardião da moral." amei isso, é a sua, a nossa cara!!!