quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Sobre fezes, poesia e contas a pagar.
Mais uma música de mentira é escrita e penso em estourar os meus
miolos. São todos tão criativos hoje em dia. Ando por ruas onde mendigos
recusam comida fresca e gênios nascem em escala industrial. Qualquer um pode ser
artista enquanto existir um filtro pra melhorar
qualquer merda que sair da nossa bunda. Ninguém sofre mais por amor. Agora
escolhe-se um canvas e vomita-se alguma coisa pasteurizada que faz brilhar os
olhos de meia dúzia de neo-hippies. Acabaram-se as brigas de bar, ninguém mais bate
em mulher, joga prato na parede, lincha alguém na praça. Até os ditadores mais
cruéis andam morrendo de velhice. Sem cólera a poesia é moribunda. Sem fel a
arte passeia cheirosinha demais e passa vergonha sempre que aparece muito lá em
cima do pódio. Salvem as derrotas incomensuráveis. Salvem os pulhas de plantão.
Salvem os doentes patológicos que nunca sentaram-se num divã. Salvem os heróis de verdade. Sem dor não existiria
literatura. Sem esgoto não nos embebedaríamos com as paixões. Quando vão
entender que é preciso parar de escrever, pintar ou se expressar por nada.
Cambada de chatos. Há sempre um clássico dando sopa em alguma biblioteca pública imunda.
Vá ler, vá se arriscar, vá tomar um banho. Mergulhe na imensidão proletariada que é
trabalhar por horas e se espremer num transporte público pra chegar em casa. Compre
algo e sofra pra pagar em mil vezes. Busque a beleza na quitação de um carnê. A
vida de verdade, meu caro, é muito feia pra bombar no instagram.
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